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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ezequiel 38 e 39 e o princípio bíblico de interpretação para as profecias mistas


Os capítulos 38 e 39 formam uma única profecia. A passagem inteira foi submetida a muita especulação. De tempos em tempos houve várias interpretações. A fim de avaliá-las corretamente, você precisa saber a finalidade básica, os métodos e o alcance da profecia. O problema é encontrar uma maneira de distinguir claramente entre a parte que possui cumprimento local e imediato e a que tem cumprimento mais remoto na era cristã ou no tempo do fim!  Alguns tentaram explicar esta mistura aparente de futuro imediato com futuro distante com a suposição de que o profeta, dando uma mensagem para pessoas de seu tempo, fazia de quando em quando digressões proféticas. Embora esta premissa pareça resolver o problema parcialmente, não prevê critérios para distinguir adequadamente o que é imediato e o que está num futuro distante. A resposta para este problema está na formalização de um princípio cujo método já aparece na própria Bíblia.  

Princípio bíblico de interpretação para as profecias mistas As profecias que têm a ver com a glória futura de Israel e de Jerusalém foram condicionadas pela obediência (Jr 18: 7-10). Elas se cumpririam literalmente nos séculos seguintes, se os israelitas aceitassem totalmente os propósitos de Deus para eles. O fracasso de Israel na obediência tornou impossível o cumprimento dessas profecias! No entanto, isso não significa necessariamente que elas não têm mais importância hoje. Paulo concorda com isto ao afirmar: “E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas” (Rm 9:6). Temos no Novo Testamento numerosas citações do AT onde os escritores mostram como previsões para o Israel literal encontrarão um cumprimento glorioso no Israel espiritual! Contudo, é possível notar o fato de que nem todos os detalhes da profecia original poderiam ser satisfeitos com precisão no cumprimento posterior. Em verdade é uma regra segura da exegese aplicar as profecias do AT não cumpridas ou cumpridas parcialmente para o futuro no qual o NT aponta!  O que vai para além destes limites é especulação, na melhor das hipóteses, e nunca deve formar a base de uma doutrina ou a premissa sobre a qual se constrói um raciocínio teológico. Quando vemos informações puramente locais nessas profecias antigas, certamente é porque Deus originalmente pretendia que essas previsões se cumprissem daquele jeito naqueles tempos! Por exemplo: os períodos de tempo “7 anos” (Ez 39:9) e os “7 meses” (:12 e 14); o sepultamento dos mortos após a vitória de JAVÉ e Israel sobre Gogue (:11-15), etc. Não existe nada relacionado a esses detalhes proféticos, não cumpridos na história sagrada (ou secular) ou a se cumprir, nos escritos do Novo Testamento. Devemos respeitar isto. Caso contrário, incorreremos no pecado de inventar cumprimentos não bíblicos para essas profecias! Deixemos isto para os falsos profetas (Mt 7:15-23, 24:24 e I Tm 4:1,2), ou você acha que o diabólico mister desses profissionais do engano é só inventar revelações? Não mesmo. Eles também inventam cumprimentos enganosos para profecias divinas (cf. Gn 3, Jr 28 e Mt 23)!  

À luz deste princípio podemos verificar também que Ezequiel 38 e 39 teriam sido literalmente cumpridos após o retorno dos judeus do exílio babilônico caso eles aceitassem as condições oferecidas pelos profetas (Lv 26, Dt 7 e 28). Devido sua recusa persistente, entretanto, nunca a prosperidade ali descrita (Ez 38:14) chegou a ser concretizada! Consequentemente nunca existiram as “Forças de Gogue” (Ez 39:14), a Liga das Nações pagãs que, segundo JAVÉ, atacariam o então Israel da “terra das aldeias sem muros” (38:11)! E como poderíamos aplicar todos os detalhes desta profecia não cumprida pela desobediência do Israel literal, à recompensa da obediência do Israel espiritual apontando para a Nova Jerusalém, por exemplo, se Ap 21 enfatiza a “alta muralha” da Santa Cidade? (21:12) Você ousaria transgredir Ap 22: 18? Como dissemos, tal aplicação só poderia ser estabelecida através de uma subsequente divulgação pela inspiração sobre algum profeta posterior a Ezequiel! No NT há apenas uma referência direta aos símbolos destas profecias de Ezequiel: “e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar” (Ap 20: 8). Embora o cumprimento desta profecia não tenha ocorrido no tempo de sua enunciação (nem mais tarde), de acordo com o profeta João podemos crer que ela se cumprirá “mil anos” (Ap 20:7) após a volta de Jesus, mas não com todos os detalhes proféticos enunciados originalmente pelo profeta Ezequiel!

A história teria sido muito diferente se o Israel literal tivesse sido submisso a e cooperador com os planos que Deus tinha para seu povo. No curso natural dos acontecimentos, a nação próspera e restaurada seria o objeto de inveja das nações pagãs de modo que o ataque daqueles que se recusavam a aceitar a mensagem sobre o verdadeiro Deus, vinda dos servos fiéis, realmente se cumpriria. Na guerra descrita (Ez 38 e 39), Deus iria proteger seu povo, dando-lhes uma vitória esmagadora! Você pode se perguntar, então, “por que essas coisas não poderiam se cumprir hoje em dia, no Estado de Israel na Palestina?” Lembre-se que, desde quando o povo judeu, como nação, como descendentes de Abraão, Noé e Adão, rejeitou o Messias, Jesus Cristo, eles foram rejeitados por JAVÉ (Mt 21:43) e as promessas condicionais e as incondicionais são de  propriedade da Igreja cristã (At 2) e do remanescente fiel (Ap 12:17), as quais se cumprirão num sentido espiritual no Israel espiritual.

É claro que eu creio em profetas extra-bíblicos que viveram (ou viverão) antes, durante e após a construção dos livros sagrados, pois a própria Escritura assim o diz (cf. Jd 14, II Cr 9:29 e I Co 1:6 e 7). Mas, caso encontremos um “assim diz JAVÉ” (Ez 39:1) em seus escritos, devemos comparar seu conteúdo com a Bíblia e o testarmos com os escritos dos genuínos profetas, para podermos crer, sem erro, nalguma explicação de detalhes proféticos não cumpridos no AT e não comentados por escritores do NT.   (Hendrickson Rogers; confira também as pp. 732 e 733 do Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia em espanhol)

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