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sábado, 13 de julho de 2013

Saímos da era do “futurismo” para o “presentismo”??

O tempo já não avança mais. Só o agora interessa. Com a disseminação da tecnologia digital, nos tornamos escravos do presente. Constantemente interrompidos por smartphones, emails e atualizações em redes sociais, perdemos nossa capacidade de planejar e fazer concessões em nome de um benefício posterior. Desorientados, incapazes de dar sentido histórico ao que acontece à nossa volta, vivemos suspensos na urgência do momento, obrigados a dar conta de tudo ao mesmo tempo.

Os políticos colocam o consenso à frente dos grandes objetivos; e, em vez de acumular capital, o mercado prefere realizar transações satisfatórias apenas para aquele momento. Da mesma forma, a biodiversidade é devastada para manter nosso modo de produção funcionando a pleno vapor. Todos os problemas do planeta são urgentes — crises econômicas, políticas, sociais e ecológicas — e ninguém mais sabe qual deles deve-se resolver primeiro.

Se você reconheceu alguns dos sintomas descritos acima, não se surpreenda. Afinal, não se trata de uma trama distópica de ficção científica, mas de um diagnóstico sobre o mundo contemporâneo. Quem o faz é Douglas Rushkoff, professor de estudos de mídia na The New School University de Manhattan, colunista de cybercultura do “New York Times” e escritor traduzido para mais de 30 línguas. Em seu último livro, o polêmico “Present shock: When everything happens now” ("Choque do presente: quando tudo acontece agora”, em tradução livre), que acaba de ser lançado nos EUA, ele afirma que as mídias digitais aboliram a ideia de amanhã. O tempo deixou de ser um conceito linear para dar lugar a uma espécie de “instante prolongado”. A nova estrutura mudou nossa forma de pensar política, economia, ecologia e relacionamentos afetivos. Diz respeito tanto a maneira como acompanhamos as narrativas televisivas quanto a que escolhemos os governantes e nos relacionamos com o meio ambiente.

O título do livro é uma referência a “Future shock”, obra emblemática do sociólogo e futurólogo Alvin Toffler. Publicada em 1970, com mais de 6 milhões de exemplares vendidos até hoje, defendia a ideia de que o ritmo acelerado da mudança tecnológica e social sobrecarregava as pessoas. A sociedade se transformava depressa demais, e poucos conseguiam acompanhá-la. Para Rushkoff, contudo, esse período encerrou seu ciclo. Desde a virada do século XXI — e principalmente depois dos eventos de 11 de setembro — saímos da era do “futurismo” para o que ele chama de “presentismo”. O futuro já chegou, e o mal-estar agora não vem mais da necessidade de construir o mundo, mas de sustentá-lo.

— O presentismo é a principal característica dessa era digital — avalia Rushkoff, de Nova York, em entrevista por telefone ao GLOBO. — A sensação não é mais a de que estamos flutuando através do tempo, e sim congelados em um instante. Não é algo ruim em si, mas muitas pessoas não conseguem lidar com isso. Ficam desorientadas, entrando nesse estado que chamo de “choque de presente”. São incapazes de se envolver apenas com o momento. Pior: estão sobrecarregadas por ele. Precisam fazer o máximo num mínimo de tempo. É só ver quem trabalha no mercado de ações. Muitos acabam comprando derivativos em vez de investir em algo que poderá render mais dinheiro no futuro.


Caos mental

As observações não significam que Rushkoff seja um inimigo das novas tecnologias, longe disso. Ele apenas acredita que existe uma má aplicação delas. A beleza do digital, segundo o autor, era nos permitir poupar tempo e escolher uma atividade de cada vez, de acordo com a nossa disponibilidade. Seu uso atual, contudo, provocou o resultado contrário: uma necessidade de fazer tudo e estar em todos os lugares, sem estabelecer prioridades. Distraídos por interrupções constantes, não sabemos mais no que devemos nos concentrar. Começa na nossa rotina de trabalho individual e continua nas decisões coletivas dos escritórios, das instituições e dos partidos políticos.

— Perdemos o direito de esperar — lamenta Rushkoff. — Computadores executam processamento paralelo (processamento da informação com ênfase na exploração de eventos simultâneos na execução de um software), mas não os seres humanos. Conseguimos ficar com mais de uma janela do navegador aberta, mas não podemos estar em duas janelas mesmo tempo. O problema é que as pessoas do outro lado do computador não respeitam isso. Mandam email esperando que você o responda no mesmo minuto em que o recebe, mesmo que não esteja em frente ao computador. O digital não funciona como o analógico. Quando toca o telefone, por exemplo, é preciso atravessar o seu apartamento para atender. Mas o email continua lá, até que você o abra. E a pessoa que o mandou não consegue esperar. Assim, fica a sensação de que temos que estar disponíveis 24 horas por dia. Só que isso não é possível. As empresas não podem querer que fiquemos conectados o tempo todo.

Rushkoff cria novos termos para definir os principais efeitos deste choque de presente. “Overwinding” é a tentativa de condensar prazos enormes em outros muito menores — como experimentar a mesma catarse emocional de uma elaborada peça de cinco atos em um flash aleatório de um reality show, ou a expectativa de ganhar o equivalente a um ano de lucro em uma única Black Friday. Sem falar das donas de casa que esperam parecer 20 anos mais jovens com uma aplicação de botox, mas acabam limitando o rosto a uma única expressão facial.

Já “digifrenia” é o caos mental provocado pela necessidade de “estar” em mais de um lugar ao mesmo tempo. Ele cita o exemplo dos pilotos de drones. Controlando aviões a distância por meios eletrônicos, bombardeiam países longínquos sem sair da sua cidade. Vivendo simultaneamente em dois mundos (o conforto de casa e o campo de batalha), acabam sofrendo ainda mais estresse do que os pilotos de combate que arriscam suas vidas na esfera real. O mesmo pode acontecer com um cidadão comum que já não consegue distinguir sua identidade real daquela que criou para as redes sociais. Enquanto estamos desconectados, nossos avatares continuam existindo e atuando fora do nosso controle — quando as redes sociais os usam para propagandear produtos, ou quando somos marcados em alguma foto no Facebook.
Rushkoff, porém, não pretende fazer alarmismo. Ele admite que, embora não se possa escapar do presentismo, nem todos são infelizes com o fenômeno.

— Certas pessoas têm uma capacidade genuína de viver no presente, e isso é bom. Envolvem-se com o instante, de forma mais desvinculada. É o caso do movimento Occupy, nos EUA, e em certa medida os protestos aí no Brasil. Os brasileiros cansaram de se sacrificar para o futuro. Perceberam que o país está ficando mais rico e querem sua parte dessa riqueza. Mas querem que seja agora.

Fonte: http://oglobo.globo.com/amanha/tudo-ao-mesmo-tempo-agora-um-fenomeno-da-era-digital-8969361#ixzz2YhtXbYHL

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"A permanente paz, o verdadeiro descanso do espírito, não têm senão uma Fonte. Foi desta que Cristo falou quando disse: 'Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.' (Mateus 11:28). 'Deixo-vos a paz, a Minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.' (João 14:27). Essa paz não é qualquer coisa que Ele dê à parte de Si mesmo. Ela está em Cristo, e só a podemos receber recebendo a Cristo." (Ellen G. White. A Ciência do Bom Viver, p. 247)

Fonte: Biologia Teísta

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