A Paleobiologia é um campo científico que se dedica ao estudo dos organismos fósseis sob a ótica da Biologia e utiliza conceitos e ferramentas dessa ciência para esclarecer aspectos fundamentais sobre a história e os processos evolutivos dos organismos.[1] Nas últimas décadas, paleobiólogos têm descoberto tecidos moles − embora os evolucionistas prefiram o termo “tecido não resistente” − no interior dos ossos de dinossauros fossilizados.[2] Eles parecem tão frescos a ponto de sugerir que os corpos foram enterrados apenas alguns milhares de anos atrás.
Em 2005, um estudo norte-americano liderado pela Dra. Mary Schweitzer (confira) desafiou as evidências de uma cronologia que coloca em 65 milhões anos a época da extinção dos dinossauros. Os autores resolveram quebrar um precioso fóssil – um fêmur de Tiranossauro rex −, ainda que com certa relutância, para estudá-lo por dentro e procurar tecidos moles preservados. Para tanto, eles usaram alguns ossos isolados de um espécime procedente da Formação Hell Creek, em Montana (Estados Unidos), e obtiveram certo sucesso.[3] Os autores descobriram filamentos flexíveis e transparentes que se assemelham a vasos sanguíneos (mantêm elasticidade, são transparentes e ocos).
Dentro desses supostos vasos sanguíneos havia vestígios do que pareciam ser hemácias; e outros que pareciam osteócitos – células que constroem e mantêm o osso. Para os autores, o processo que preservou essas estruturas é diferente da fossilização comum; um meio desconhecido de preservação que ainda faz os pesquisadores pensarem duas vezes antes de dar um palpite a respeito. Embora o material estivesse preservado (confirmado pela elasticidade), unicamente as proteínas não poderiam ser utilizadas para dar detalhes do DNA do animal.[3] Os autores forneceram apenas uma vaga explicação de fatores geoquímicos e ambientais que poderiam ter preservado os tecidos, mas acrescentaram que a causa ainda é indeterminada.
Como era de se esperar, o anúncio de Schweitzer foi recebido com grande ceticismo por parte da comunidade evolucionista. Schweitzer, inclusive, teve problemas para publicar seus resultados. “Tive um revisor que me disse que ele não se importava com o que diziam os dados”, disse a pesquisadora. “Ele sabia que o que eu tinha encontrado não era possível. Eu escrevi de volta e disse: ‘Bem, quais dados convenceriam você?’ E ele disse: ‘Nenhum’.”[4: p. 37].
A melhor maneira de os evolucionistas descartarem essa forte evidência contra o cenário darwinista era alegar contaminação ou algo do gênero. Foi então que Jeffrey Bada, um geoquímico orgânico do Instituto Scripps de Oceanografia, em San Diego, disse: “Não posso imaginar tecido mole sobrevivendo por milhões de anos.”[5] Ele acrescentou que o material celular encontrado deveria ser a “contaminação de fontes externas”. Em 2008, um estudo publicado na revista PLoS One interpretou os restos de tecidos moles vasculares (túbulos ramificados e os glóbulos) nos fósseis de T. rex como sendo produtos de biofilmes bacterianos.[6] Mas, mesmo que os vasos sanguíneos fossem produtos do biofilme, este dificilmente poderia ter explicado a presença de proteínas e DNA.[7]
Schweitzer, entretanto, buscou levantar objeções contra a interpretação de biofilmes e, em estudos posteriores, acrescentou outros argumentos e mostrou linhas de evidência complementares para corroborar a interpretação de que os restos eram, sim, tecidos biológicos de dinossauros. Foi então que, em 2009, Schweitzer e colaboradores identificaram sinais de vasos sanguíneos e colágeno por meio de uma análise feita em um fêmur de Hadrosaur B. canadenses (Hadrossauro), o dinossauro bico-de-pato, um fóssil de 80 milhões de anos, encontrado na formação do rio Judith, sítio paleontológico no estado de Montana.[8]
Em vez de escavar o fóssil no local, os cientistas removeram a peça juntamente com a camada de arenito que a envolvia. O bloco foi selado e transportado para o laboratório a fim de evitar contaminação e degradação do material – para evitar novamente as críticas sobre contaminação.[8] Os pesquisadores, então, usaram análises independentes e distintas como microscopia de tunelamento de elétrons para examinar a aparência e a estrutura dos tecidos, e espectrometria de massa e testes de ligação de anticorpos para identificar proteínas. Os resultados mostraram evidências de colágeno, bem como de laminina e elastina, duas proteínas encontradas em vasos sanguíneos.
Em 2013, Schweitzer e colaboradores testaram uma hipótese anterior de que o ferro poderia desempenhar um papel na preservação de tecidos antigos dentro de fósseis de dinossauros.[9, 10] Os resultados sugeriram que a presença de hemoglobina − a molécula que contém ferro que transporta o oxigênio nas células vermelhas do sangue – pode ser a chave para preservar tecidos antigos dentro de fósseis de dinossauros, mas também pode escondê-los da detecção. Ao morrer, as células liberariam ferro nos tecidos que desencadearia a formação de radicais livres (antioxidante), funcionando como o formaldeído na preservação de tecidos e proteínas.
No entanto, a experiência realizada em laboratório é pouco representativa em comparação com o mundo real.[11] Eles mergulharam um grupo de vasos sanguíneos em líquido rico em ferro feito de células vermelhas do sangue, isto é, hemoglobina pura; e outro grupo foi mergulhado em água. Eles afirmaram que o grupo que permaneceu na água ficou irreconhecível dentro de dias, e o outro grupo em hemoglobina pura ficou reconhecível durante dois anos. Será que se a hemoglobina fosse diluída ela agiria da mesma forma? E a sugestão de que os vasos sanguíneos ficaram “reconhecíveis” por dois anos de alguma forma demonstra que eles poderiam durar 35 milhões de vezes mais?
Em 2012, uma equipe de pesquisadores do grupo Paleocronologia fez uma apresentação no período de 13 a 17 de agosto em uma reunião anual de Geofísica do Pacífico Ocidental, em Cingapura, idealizada pela conferência da União Americana de Geofísica (AGU) e pela Sociedade de Geociências da Oceania Asiática (AOGS).[12] Os autores descobriram uma razão para a sobrevivência intrigante dos tecidos moles e colágeno em ossos de dinossauros. Segundo eles, os ossos são mais jovens do que tem sido relatado. Para tanto, eles utilizaram o método de datação por radiocarbono (carbono-14) em múltiplas amostras de ossos de oito dinossauros encontrados no Texas, Alasca, Colorado e Montana. E, pasme! Eles reportaram a presença do carbono-14 (que decai rapidamente) nos ossos, revelando que eles tinham apenas entre 22.000 a 39.000 anos de idade.
Como era de se esperar, embora o trabalho tivesse sido aceito, os cientistas foram censurados e o resumo foi removido do site da conferência por dois presidentes, porque não podiam aceitar as conclusões. Quando os autores questionaram, eles receberam uma carta. Mas qual seria o motivo para isso? O pressuposto dos presidentes era o de que o carbono-14 não poderia estar presente em tais fósseis “velhos”. Negativas como essa têm impedido a realização de testes com a datação por carbono e prejudicado o progresso da ciência. Isso porque os evolucionistas sabem que, se uma análise fosse feita utilizando esse método de datação, seria altamente provável que mostraria uma “idade de radiocarbono” de milhares de anos, e não a de “milhões de anos”, como a da previsão evolutiva.
Em 2013, um estudo experimental realizado nos Estados Unidos por um cientista da microscopia, criacionista, encontrou tecidos fibrilares moles obtidos da região supraorbital de um chifre de Triceratops horridus (Tricerátopo) coletados na Formação Hell Creek, em Montana, EUA.[13] O tecido mole estava presente no osso pré e pós-descalcificado. Foram retiradas amostras da matriz óssea lamelar onde foram encontradas microestruturas parecidas com osteócitos. Os osteócitos são células derivadas dos osteoblastos que se diferenciam e preenchem a estrutura lamelar, compreendendo diversas funções histológicas, como, por exemplo, remodelação do esqueleto ou mesmo crescimento ósseo. Os autores notaram que alguns osteócitos apresentavam extensões filipodiais e, segundo eles, não havia nenhuma evidência de permineralização ou cristalização. Mas o que isso significa? Isso quer dizer que o material ósseo conservou proteínas ativas e, inesperadamente, DNA (que se degrada rapidamente). Ou seja, ele não foi degradado nem passou por processo de fossilização. Teoricamente, o material continua ileso, íntegro, desde a morte do dinossauro.
Após a publicação do artigo sobre a descoberta de tecidos moles, Mark Armitage foi demitido da Universidade Estadual da Califórnia por inferir que tais estruturas, talvez, tivessem milhares de anos em vez dos supostos milhões de anos.[14] Armitage, é claro, está processando a Universidade por ter sido despedido sem uma justa causa. O caso legal em torno da demissão de Armitage abre muitas questões importantes sobre a liberdade acadêmica. Na verdade, numerosos exemplos de supressão da “liberdade acadêmica” podem ser citados em que os cientistas têm sido discriminados por apresentar pontos de vista conflitantes com as perspectivas tradicionais.
Em 2015, foram encontradas fibras e estruturas celulares preservadas em espécimes de dinossauro de supostos 75 milhões de anos.[15] Os pesquisadores examinaram amostras de oito ossos de dinossauros do Cretáceo. Eles encontraram material consistente com as estruturas de fibra de colágeno endógeno e fragmentos de aminoácidos típicos de fibrilas de colágeno. Também observaram estruturas compatíveis com eritrócitos com espectros semelhantes ao do sangue total. Para a equipe, mesmo sem DNA, as células dos tecidos moles e as moléculas poderiam ensinar muito mais sobre a fisiologia e o comportamento dos dinossauros. Por exemplo, o tamanho das células do sangue pode revelar insights sobre o metabolismo e a suposta transição do sangue frio para o sangue quente. Exames tridimensionais das células do sangue revelaram que elas possuem núcleo, o que significa que as células do sangue humano não podem ter contaminado a amostra, porque não possuem núcleo.
Em 2015, pesquisadores norte-americanos publicaram os resultados de seu projeto iDINO (investigation of Dinosaur Intact Natural Osteo-tissue), cujo objetivo é a investigação da permanência de tecidos moles em ossos de dinossauros.[16] Os autores encontraram quantidades mensuráveis de carbono-14 em 16 amostras a partir de 14 espécimes fósseis de peixes, madeira, plantas e animais de toda a coluna geológica, Mioceno a Permiano, de todas as três eras: Cenozoica, Mesozoica e Paleozoica. As amostras vieram do Canadá, Alemanha e Austrália. Cerca de metade eram de ossos de dinossauros (sete espécimes). Todas as amostras foram preparadas por processos padrão para eliminar a contaminação e, em seguida, foram submetidas a um laboratório para espectrometria de massa atômica. As idades variaram entre 17.850 a 49.470 anos de radiocarbono.
Como pode ser visto, parece que está cada vez mais difícil defender o dogma de que os dinossauros viveram há milhões de anos na escala geológica, pois se há tecido mole em fósseis de dinossauros e até mesmo células sanguíneas e DNA, eles não podem ter morrido há tanto tempo, ainda que suposições sobre influências do ambiente e do ferro na preservação das biomoléculas tenham sido levantadas. Fato é que evidências científicas indicam que biomoléculas em restos fósseis não sobrevivem por até 80 milhões de anos, como algumas pesquisas apontam. Há evidências de que a degradação de biomoléculas ocorre depois da morte em um tempo entre semanas a décadas, com alguns fragmentos moleculares resistentes que poderiam sobreviver até no máximo 100 mil anos.[9, 17] Outra pesquisa sugeriu que o colágeno não deveria aguentar num organismo fóssil por mais de 2,7 milhões de anos, na melhor das hipóteses.[18]
Além disso, é curioso observar as tentativas de evolucionistas em relacionar muitas dessas descobertas com uma suposta contaminação, e também o modo como eles agem para abafar as descobertas ou métodos conflitantes com suas hipóteses de “milhões de anos”. Um pesquisador que segue apenas as evidências deve-se perguntar: Por quê? O público tem o direito de conhecer a cronologia real dos dinossauros e a verdade sobre a história da Terra.
(Everton Fernando Alves é enfermeiro e mestre em Ciências da Saúde pela UEM; seu e-book pode ser lido aqui)
Referências:
[1] Soares LPCM, Kerber BB, Osés GL, Oliveira AM, Pacheco MLAF. “Paleobiologia e Evolução: o potencial do registro fossilífero brasileiro.” Revista Espinhaço 2013; 2(1): 24-40.
[3] Schweitzer MH, Wittmeyer JL, Horner JR, Toporski JK. “Soft-Tissue Vessels and Cellular Preservation in Tyrannosaurus rex.” Science. 2005; 307(5717):1952-5.
[4] Yeoman B. “Schweitzer’s Dangerous Discovery.” Discover Magazine 2006; 27(4):37-41. Disponível em: http://discovermagazine.com/2006/apr/dinosaur-dna ou
[5] Entrevista concedida por Jeffrey Bada. In: Yeoman B. “Schweitzer’s Dangerous Discovery.” Discover Magazine 2006; 27(4):37-41. Disponível em:http://discovermagazine.com/2006/apr/dinosaur-dna
[6] Kaye TG, Gaugler G, Sawlowicz Z. “Dinosaurian soft tissues interpreted as bacterial biofilms.” PLoS One. 2008; 3(7):e2808.
[7] Wieland C. “More confirmation for dinosaur soft tissue and protein.” Journal of Creation 2009; 23(3):10–11. Disponível em:http://creation.com/images/pdfs/tj/j23_3/j23_3_10-11.pdf
[8] Schweitzer MH, Zheng W, Organ CL, Avci R, Suo Z, Freimark LM, Lebleu VS, Duncan MB, Vander Heiden MG, Neveu JM, Lane WS, Cottrell JS, Horner JR,Cantley LC, Kalluri R, Asara JM. “Biomolecular Characterization and Protein Sequences of the Campanian Hadrosaur B. Canadensis.” Science. 2009; 324(5927):626-31.
[9] Schweitzer MH, Wittmeyer JL. “Dinosaurian soft tissue taphonomy and implications.” In: AAAS Annual meeting, Abstracts with Programs, St. Louis, Missouri, USA, 16-20 de Fevereiro de 2006.
[10] Schweitzer MH, Zheng W, Cleland TP, Goodwin MB, Boatman E, Theil E, Marcus MA, Fakra SC. “A role for iron and oxygen chemistry in preserving soft tissues, cells and molecules from deep time.” Proc Biol Sci. 2013; 281(1775):20132741.
[11] Smith C. “Dinosaur soft tissue.” [Jan. 2014]. Creation, 2014. Disponível em:http://creation.com/dinosaur-soft-tissue
[12] Miller H, Owen H, Bennett R, De Pontcharra J, Giertych M, Taylor J, Van Oosterwych MC, Kline O, Wilder D, Dunkel B. “A comparison of δ13C & pMC Values for Ten Cretaceous-jurassic Dinosaur Bones from Texas to Alaska, USA, China and Europe.” In: AOGS 9th Annual General Meeting. 13 to 17 Aug 2012, Singapore. Disponível em:http://4.static.img-dpreview.com/files/p/E~forums/50713079/dfdc0a3fdc564435bb159bce43a40d77
Uu dados complementares: http://2.static.img-dpreview.com/files/p/E~forums/50713079/2dadd8b7e62d4940b3099d0d3c56e650
Vídeo no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=QbdH3l1UjPQ
[13] Armitage MH, Anderson KL. “Soft sheets of fibrillar bone from a fossil of the supraorbital horn of the dinosaur Triceratops horridus”. Acta Histochem. 2013; 115(6):603-8.
[14] CBS Los Angeles. “Lawsuit: CSUN Scientist Fired After Soft Tissue Found On Dinosaur Fossil.” [Jul. 2014]. CBS Los Angeles, 2014. Disponível em:http://losangeles.cbslocal.com/2014/07/24/scientist-alleges-csun-fired-him-for-discovery-of-soft-tissue-on-dinosaur-fossil/
[15] Bertazzo S, Maidment SC, Kallepitis C, Fearn S, Stevens MM, Xie HN. “Fibres and cellular structures preserved in 75-million–year-old dinosaur specimens.” Nat Commun. 2015; 6:7352.
[16] Thomas B, Nelson V. “Radiocarbon in Dinosaur and Other Fossils.” Creation Research Society Quarterly 2015; 51(4):299-311.https://creationresearch.org/index.php/extensions/crs-quarterly/s5-frontpage-display/item/117
[17] Entrevista concedida por Mary Schweitzer. “Protein links T. rex to chickens.” [Abr. 2007]. Entrevistador: Paul Rincon. BBC News, 2007. Disponível em:http://news.bbc.co.uk/2/hi/6548719.stm
[18] Nielsen-Marsh C. “Biomolecules infossil remains: Multidisciplinary approach to endurance.” The Biochemist 2002; 24(3):12-14.
Fonte: Engenharia Filosófica.
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