Nenhuma Dança no Serviço de Adoração Se fosse verdade que na Bíblia
“a dança é um componente da adoração divina”, então por que não há nenhum
indício de dança realizada por homens ou mulheres nos serviços de adoração no
Templo, na sinagoga, ou na igreja primitiva? Será que o povo de Deus, em tempos
bíblicos, negligenciou um importante “componente da adoração divina?” Negligência
não parece ser a razão para a exclusão da dança do culto divino, porque
observamos que foram dadas instruções claras com respeito ao ministério da
música no templo. O coro levítico só era acompanhado por instrumentos de corda
(a harpa e o alaúde). Instrumentos de percussão como tambores e adufes,
geralmente usados para executar música dançante, foram claramente proibidos. O
que foi verdade no Templo também foi verdade para a sinagoga e mais tarde para
a igreja primitiva. Nenhuma dança ou entretenimento musical jamais foi
permitido na Casa de Deus. Garen Wolf chega a essa conclusão depois de sua
extensa análise em Dance in the Bible
[A Dança na Bíblia]: “Primeiro,
referências à dança, como parte da adoração no Templo, não podem ser
encontradas em lugar algum, tanto no primeiro quanto no segundo Templo. Segundo, das 107 vezes que estas
palavras são usadas na Bíblia [palavras hebraicas traduzidas como “dança”], em
apenas quatro vezes elas podem ser consideradas como se referindo a dança
religiosa. Terceiro, nenhuma destas
referências a dança religiosa foi em conjunção com a adoração pública regular e
tradicional dos hebreus”. [1] É importante notar que Davi, que é considerado
por muitos como o exemplo principal para a dança religiosa na Bíblia, nunca deu
instruções aos levitas com respeito a quando e como dançariam no Templo. Se
Davi cresse que a dança deveria ser um componente na adoração divina, sem
dúvida teria dado instruções relativas a ela aos músicos levitas que designou
para se apresentarem no templo. Acima de tudo, Davi foi o fundador do
ministério de música no Templo. Vimos que ele deu claras instruções aos 4.000
músicos levitas pertinentes a quando cantarem e que instrumentos usarem para
acompanharem seu coral. Sua omissão da dança na adoração divina dificilmente
pode ser considerada como um lapso. Ao contrário, ela nos fala da distinção que
Davi fez entre a música sacra, executada na Casa de Deus e a música secular
tocada fora do Templo para o entretenimento. Uma importante distinção deve ser
feita entre música religiosa tocada para o entretenimento social e a música
sacra executada para adoração no Templo. Não devemos nos esquecer que toda vida
dos israelitas era orientada pela religião. O entretenimento era provido, não
por concertos ou apresentações em um teatro ou num circo, mas pela celebração
de eventos religiosos ou festivais, freqüentemente através de danças
folclóricas, com homens ou mulheres em grupos separados. Nenhuma dança de
orientação romântica ou sensual, realizada por casais, jamais ocorreu no antigo
Israel. A maior dança anual acontecia, como veremos, juntamente com a Festa dos
Tabernáculos, quando os sacerdotes entretinham o povo realizando incríveis
danças acrobáticas a noite inteira. Isto significa que aqueles que apelam às
referências bíblicas para justificar a dança romântica moderna dentro ou fora
da igreja ignoram a vasta diferença entre as duas. A maioria das pessoas que
recorrem à Bíblia para justificar a dança romântica moderna não está nem um
pouco interessada na dança dos povos mencionados na Bíblia, onde não havia
nenhum contato físico entre os homens e as mulheres. Cada grupo de homens,
mulheres, e crianças realizavam seu próprio “espetáculo”, que na maioria das
vezes era um tipo de marcha com cadência rítmica. Eu vi a “Dança ao Redor da Arca” pelos sacerdotes Cópticos na Etiópia, onde
várias tradições judaicas permaneceram, inclusive a observância do Sábado. Não
pude entender por que eles chamavam aquilo de “dança”, já que era somente uma
procissão dos sacerdotes, que marchavam com uma certa cadência rítmica. Aplicar
a noção bíblica de dança à dança moderna, é enganoso, para se dizer o mínimo,
porque há uma enorme diferença entre as duas. Este ponto ficará mais claro
quando examinarmos as referências à dança.
As Referências à Dança Contrariamente às suposições anteriores,
apenas quatro das vinte e oito referencias a dança se referem sem discussão à
dança religiosa, mas nenhuma destas tem a ver com a adoração pública realizada
na Casa de Deus. Para evitar sobrecarregar o leitor com a análise técnica do
uso extenso de seis palavras hebraicas traduzidas como “dança”, apresentarei
apenas uma breve alusão a cada uma delas. A palavra hebraica “chagag” é traduzida uma vez como “dança”
em I Samuel 30:16 no contexto de “comendo, bebendo e dançando”, pelos
Amalequitas. É evidente que isto não é dança religiosa. A palavra hebraica “chuwl” é traduzida duas vezes como
“dança” em Juízes 21:21,23, com referencia às filhas de Siló, que saíram a
dançar nas vinhas e foram tomadas de surpresa como esposas pelos homens de
Benjamim. Novamente, não há dúvida que neste contexto esta palavra se refere à
dança secular, executada por mulheres acima de qualquer suspeita. A palavra
hebraica “karar” é traduzida duas
vezes como “dança” em II Samuel 6:14 e 16 onde está declarado “E Davi dançava
com todas as suas forças diante do Senhor;... Mical, filha de Saul, estava
olhando pela janela; e, vendo ao rei Davi saltando e dançando diante do Senhor...”.
Abaixo é dito mais acerca do significado da dança de Davi. Neste contexto é
suficiente notar que “estes versos se referem a um tipo de dança religiosa fora
do contexto da adoração no Templo. A palavra “karar” é usada nas escrituras apenas nestes dois versos, e nunca é
usada em conjunção com a adoração no Templo”. [2] A palavra hebraica “machowal” é traduzida seis vezes como
“dança”. Salmos 30:11 usa o termo poeticamente: “Tornaste o meu pranto em
regozijo [danças]”. Jeremias 31:4 fala das “virgens de Israel” as quais “sairão
nas danças dos que se alegram”. O mesmo pensamento é expresso no verso 13. Em
ambas as ocasiões as referências são a danças folclóricas sociais, executadas
pelas mulheres.
“Louvai-O com Danças” Em dois exemplos importantes, machowal é traduzido como “dança”
(Salmos 149:3 e 150:4). Eles são os mais importantes porque na visão de muitas
pessoas eles provêem o apoio bíblico necessário para se dançar como parte na
adoração da igreja. Uma olhada de perto nestes textos demonstra que esta
suposição popular está baseada em uma leitura superficial e numa interpretação
incorreta dos textos. Lingüisticamente, o termo “dança” nestes dois versos é
contestado. Alguns estudiosos acreditam que machowl
deriva de chuwl que significa “fazer
uma abertura” [3] – uma possível alusão a um instrumento de “tubo”, como um
órgão. Na realidade esta é a versão de rodapé dada pela KJV. O Salmo 149:3
declara: “Louvem-lhe o nome com danças” [ou “com órgão”, no rodapé da KJV]. Em
Salmos 150:4 lemos: “Louvai-O com adufes e com danças” [ou “órgão”, rodapé da
KJV]. Pelo contexto, machowl parece
ser uma referência a um instrumento musical; em ambos os textos, Salmos 149:3 e
150:4, o termo ocorre no contexto de uma lista de instrumentos a serem usados
no louvor ao Senhor. No Salmo 150 a lista possui oito instrumentos: trompete,
saltério, harpa, adufes, instrumentos de corda, órgãos, címbalos sonoros,
címbalos retumbantes (KJV). Como o salmista está listando todos os instrumentos
a serem usados no louvor do Senhor, é plausível assumir que machowal é também um instrumento
musical, seja qual for a sua natureza. Outra consideração importante é a
linguagem figurativa desses dois salmos, a qual, dificilmente dá margem a uma
interpretação literal de dança na Casa de Deus. O Salmo 149:5 encoraja o povo a
louvarem o Senhor nos “leitos”. No verso 6, o louvor é feito com “espadas de
dois gumes” nas mãos. Nos versos 7 e 8, o Senhor é louvado por castigar os
povos, pôr os reis em cadeias, e os seus nobres em grilhões de ferro. É
evidente que a linguagem é figurativa porque é difícil acreditar que Deus
esperaria que as pessoas O louvassem estando em pé ou saltando sobre as camas
ou enquanto brandem uma espada de dois gumes. O mesmo se aplica ao Salmo 150,
que fala em louvar a Deus, de modo altamente figurativo. O salmista chama o
povo de Deus para louvar o Senhor “pelos seus poderosos feitos” (verso 2) em
todo lugar possível e com todo instrumento musical disponível. Noutras
palavras, o salmo menciona o lugar onde louvar o Senhor, particularmente, “no
Seu santuário” e “no firmamento do Seu poder”; a razão citada para louvar o
Senhor, é por “Seus atos poderosos... conforme a excelência da sua grandeza”.
(verso 2); e os instrumentos a serem usados citados para louvar ao Senhor são
os oito listados acima. Este salmo só faz sentido se considerarmos a linguagem
como sendo altamente figurativa. Por exemplo, não há nenhuma possibilidade do
povo de Deus poder louvar o Senhor “no firmamento do Seu poder”, porque eles
vivem na terra e não no céu. O propósito do salmo não é especificar o local e
os instrumentos a serem usados na música de louvor na igreja. Nem se pretende
dar permissão para dançar para o Senhor na igreja. Antes, seu propósito é
convidar todo aquele que respira ou emite sons para louvar ao Senhor em todos
os lugares. Interpretar o salmo como sendo uma permissão para dançar, ou tocar
tambores na igreja, é interpretar de forma incorreta a intenção do Salmo e
contradizer as regras que o próprio Davi deu com respeito ao uso de
instrumentos na Casa de Deus.
Dança de Celebração A palavra hebraica mechowlah é traduzida como “dança” sete vezes. Em cinco das sete
ocorrências a dança é feita por mulheres na celebração de uma vitória militar
(I Samuel 18:6; 21:11; 29:5; Juízes 11:34; Êxodo 15:20). Miriam e as mulheres
dançaram para celebrar a vitória sobre o exército egípcio (Êxodo 15:20). A
filha de Jefté dançou para celebrar a vitória de seu pai sobre os amonitas
(Juízes 11:34). Mulheres dançaram para celebrar a matança dos Filisteus por
Davi (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5). Nas duas ocorrências restantes, mechowlah é usada para descrever a dança
dos Israelitas, nus, ao redor do bezerro de ouro (Êxodo 32:19) e a dança das
filhas de Siló nas vinhas (Juízes 21:21). Em nenhum destes exemplos a dança é
parte de um serviço de adoração. A dança de Miriam pode ser vista como
religiosa, mas da mesma forma que as danças executadas em relação às
festividades anuais. Porém, estas danças não eram vistas como um componente de
um serviço divino. Elas eram celebrações sociais de eventos religiosos. A mesma
coisa acontece hoje em países católicos onde as pessoas celebram anualmente
dias santos organizando carnavais. A palavra hebraica raquad é traduzida quatro vezes como “dança” (I Crônicas 15:29; Jó
21:11; Isaías 13:21; Eclesiastes 3:4 [NVI]). Uma vez se refere a “seus filhos
põe-se a dançar” (Jó 21:11). Outro é o “sátiro que dança” (Isaías 13:21) que
pode ser uma cabra ou uma figura de linguagem. Um terceiro exemplo é uma
referência poética ao “tempo de dançar” (Eclesiastes 3:4), mencionada como
contraste ao “tempo para chorar”. Uma quarta referência é o exemplo clássico do
“rei Davi dançando e folgando” (I Crônicas 15:29). Em vista do significado
religioso relacionado à dança de Davi, uma consideração especial será feita em
breve.
Dança no Novo Testamento Duas palavras gregas são traduzidas como
“dança” no Novo Testamento. A primeira é orcheomai,
traduzida quatro vezes como “dançar”, referindo-se a dança da filha de Herodias
(Mateus 14:6; Marcos 6:22) e a dança dos meninos (Mateus 11:17; Lucas 7:32). A
palavra orcheomai significa dançar em
movimentos graduais ou regulares e nunca é usada para se referir à dança religiosa
na Bíblia. A segunda palavra grega traduzida como “dança” é choros. Ela é usada
apenas uma vez em Lucas 15:25, referindo-se ao retorno do filho pródigo. Nos é
dito que quando o filho mais velho chegou perto da casa “ouviu a música e as
danças”. A tradução “danças” é contestada porque a palavra grega choros ocorre
apenas uma vez nesta passagem e é usada na literatura extra-bíblica
significando “coral” ou “grupo de cantores”. [4] De qualquer forma, esta era
uma reunião familiar de natureza secular e não se referia à dança religiosa. A
conclusão a que chegamos pela pesquisa anterior das vinte e oito referências à
dança é que a dança na Bíblia era essencialmente uma celebração social de
eventos especiais, como uma vitória militar, um festival religioso, ou uma
reunião familiar. Dança era realizada principalmente por mulheres e crianças.
As danças mencionadas na Bíblia eram ou processionais, em circulo, ou que
levavam ao êxtase. Nenhuma referência bíblica indica que os homens e as
mulheres dançavam juntos de modo romântico e em pares. Como observa H. Wolf,
“Embora o modo de dançar não seja conhecido em detalhes, está claro que os
homens e mulheres geralmente não dançavam juntos, e não existe nenhuma real
evidência de que eles alguma vez o tivessem feito”. [5] Além disso, ao
contrário de suposições populares, a dança na Bíblia nunca foi executada como
parte da adoração divina no Templo, na sinagoga, ou na igreja primitiva.
A Dança na Adoração Pagã A maioria das indicações de dança
religiosa na Bíblia tem a ver com a apostasia do povo de Deus. Há a dança dos
Israelitas no pé do Monte Sinai ao redor do bezerro de ouro (Êxodo 32:19).
Existe uma alusão à dança dos israelitas em Sitim quando “começou o povo a
prostituir-se com as filhas dos moabitas”. (Números 25:1). A estratégia usada
pelas mulheres moabitas foi convidar os homens israelitas “para o os
sacrifícios dos seus deuses” (Números 25:2), o qual, normalmente, requeria
dança. Aparentemente a estratégia foi sugerida pelo profeta apóstata, Balaão,
para Balaque, rei de Moabe. Ellen White nos oferece este comentário: “Por
sugestão de Balaão, foi pelo rei de Moabe designada uma grande festa em honra a
seus deuses, e arranjou-se secretamente que Balaão induzisse os israelitas a
assistirem à mesma.... Iludidos pela música e dança, e seduzidos pela beleza
das vestais gentílicas, romperam sua fidelidade para com Jeová. Unindo-se-lhes
nos folguedos e festins, a condescendência com o vinho enuviou-lhes os sentidos
e derribou as barreiras do domínio próprio”. [6] Houve os gritos e danças dos
profetas de Baal no Monte Carmelo (I Reis 18:26). A adoração a Baal e outros
ídolos acontecia geralmente nos montes, com danças. Assim, o Senhor apela a
Israel através do profeta Jeremias: “Voltai, ó filhos infiéis, eu curarei a vossa
infidelidade . . . Certamente em vão se confia nos outeiros e nas orgias nas
montanhas” (Jeremias 3:22-23).
Davi Dançou Diante do Senhor A história de Davi dançando “com todas
as suas forças diante do Senhor” (II Samuel 6:14), enquanto conduzia o séqüito
que trazia a arca de volta para Jerusalém, é vista por muitos como a sanção
bíblica mais convincente para a dança religiosa no contexto do culto divino. No
capítulo “Dançando ao Senhor”, do livro Shall We Dance?, Timothy Gillespie,
líder de jovens adventistas do sétimo dia, escreve: “Podemos dançar perante o
Senhor como Davi, refletindo uma erupção de excitamento para a glória de Deus;
ou podemos voltar esse excitamento ao nosso interior, refletindo sobre nós e
nossos desejos egoístas”. [6] A implicação desta declaração parece ser que se
nós não dançarmos ao Senhor como Davi, reprimiremos nossa excitação e
revelaremos nosso egocentrismo. Isto é o que a história da dança de Davi nos
ensina? Olhemos este assunto mais de perto. A dança de Davi diante da arca
possui sérios problemas, para se dizer o mínimo. Em primeiro lugar, Davi estava
“cingido dum éfode de linho” (II Samuel 6:14) como um sacerdote e “trouxe
holocaustos e ofertas pacíficas perante o Senhor”. (II Samuel 6:17). Note que o
éfode era uma estola de linho, sem mangas, para ser usado exclusivamente pelos
sacerdotes como um símbolo do seu ofício sagrado (I Samuel 2:28). Por que Davi
escolheu trocar seu manto real pelos trajes de um sacerdote? Ellen White sugere
que Davi mostrou um espírito de humildade por colocar seu manto real de lado e
“se vestindo com um éfode de linho”. [7] Esta é uma explicação plausível. O
problema é que em lugar algum a Bíblia sugere que o éfode pudesse ser usado,
legitimamente, por alguém que não fosse sacerdote. O mesmo é verdade quanto aos
sacrifícios. Só os sacerdotes levitas tinham sido consagrados para oferecerem
sacrifícios (Números 1:50). O rei Saul foi reprovado severamente por Samuel por
oferecer sacrifícios: “Procedeste nesciamente em não guardar o mandamento que o
Senhor, teu Deus, te ordenou” (I Samuel 13:13). Oferecendo sacrifícios vestido
como um sacerdote, Davi estava assumindo um papel sacerdotal além do seu status
real. Tal atitude não pode ser defendida facilmente na Bíblia.
O Comportamento de Davi Mais problemática foi a maneira como Davi
dançou. Ellen White diz que Davi dançou “com júbilo perante Deus”. [8] Sem
dúvida isto deve ter sido verdade durante parte do tempo. Mas parece que
durante a dança, Davi deve ter se exaltado tanto que perdeu o manto que o encobria,
pois Mical, sua esposa, reprovou-o, dizendo: “Que bela figura fez o rei de
Israel, descobrindo-se, hoje, aos olhos das servas de seus servos, como, sem
pejo, se descobre um vadio qualquer!” (II Samuel 6:20). Davi não contestou tal
acusação nem se desculpou pelo que fez. Ao invés disso, argumentou dizendo que
fez isso “perante o Senhor” (II Samuel 6:21), e que ele estava preparado para
agir de forma “ainda mais desprezível” (II Samuel 6:22). Tal resposta
dificilmente revela um aspecto positivo do caráter de Davi. Talvez a razão dele
não estar preocupado por ter se despido durante a dança, é que este tipo de
exibicionismo não era incomum. Nos é dito que Saul também atuou em uma dança
extática: “E, despindo as suas vestes, ele também profetizou diante de Samuel;
e esteve nu por terra todo aquele dia e toda aquela noite”. (I Samuel 19:24;
cf. 10:5-7, 10-11). É fato conhecido que no período das festas anuais, danças
especiais eram organizadas por sacerdotes e nobres que executavam acrobacias
para divertirem ao povo. Porém, não há nenhuma menção de que os sacerdotes se
despissem. A dança mais famosa era executada no último dia da Festa dos
Tabernáculos, e era conhecida como a “Dança das Águas”. No Talmude há uma
descrição colorida desta Dança das Águas que era apresentada no ambiente do
Templo conhecido como átrio das mulheres: “Homens piedosos e homens de negócios
dançavam com tochas em suas mãos, enquanto cantavam canções de alegria e de
louvor, e os levitas tocavam música com lira, harpa, címbalos, trompetes e
outros incontáveis instrumentos. Durante esta celebração, diz-se que o rabino
Simeão ben Gamaliel fazia malabarismos com oito tochas, e depois dava uma
cambalhota”. [9] Danças feitas por homens ou por mulheres nos tempos bíblicos,
dentro do contexto de um evento religioso, era uma forma de entretenimento
social, em vez de ser parte do serviço de adoração. Elas poderiam ser
comparadas às celebrações anuais de carnavais que acontecem hoje em muitos
países católicos. Por exemplo, nos três dias que antecedem a Quaresma, em
países como o Brasil, o povo organiza festas carnavalescas extravagantes, com
inúmeros tipos de danças coloridas e, às vezes selvagem, semelhante ao Mardi
Gras em New Orleans. Nenhum católico consideraria tal dança como parte dos cultos
de adoração. O mesmo é verdade para os vários tipos de danças mencionados na
Bíblia. Elas eram eventos sociais com conotações religiosas. Homens e mulheres
dançavam, não de modo romântico, em pares, mas danças processionais ou em
círculos. Por causa da orientação religiosa da sociedade judaica tais danças
folclóricas eram, freqüentemente, caracterizadas como danças religiosas. Mas
não há indicação na Bíblia de que qualquer forma de dança jamais estivesse
associada ao serviço de adoração na Casa de Deus.
[1] Garen
L. Wolf, Music of the Bible in Christian Perspective (Salem, Oh, 1996), p. 153.
[2] Ibid., p. 148.
[3] Veja, por exemplo, Adam Clarke, Clarke’s Commentary
(Nashville, n. d.). vol.3, p.
688.
[4]
“Choros,” A Greek-English Lexicon of the New Testament, ed. William F. Arndt
and Wilbur Gingrich (Chicago,IL, 1979), p. 883.
[5] H. M.
Wolf, “Dancing,” The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, ed. Merrill
C. Tenney (Grand Rapids, 1976), vol. 2, p. 12.
[6] Ellen
G. White, The Story of Patriarchs and Prophets (Mountain View, Ca, 1958). p.
454.
[7] Timothy
Gillespie, “Dancing to the Lord,” em Shall We Dance? Rediscovering
Christ-Centered Standards, Ed. Steve Case (Riverside, Ca, 1992), p. 94.
[8] Ellen
G. White (nota 10), p. 707.
[9] Ibid.
Fonte: Parte do contra-argumento do Dr. Samuele
Bacchiocchi ao livro Shall We Dance?
Rediscovering Christ-Centered Standards [Dançaremos? Redescobrindo Normas
centralizadas em Cristo] escrito por um líder JA norte-americano; mas um livro não-oficial da
IASD. Edição do artigo por Hendrickson Rogers.
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