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sábado, 19 de janeiro de 2013

Darwinismo, Ontologia & Criacionismo


Apesar de a Bíblia descrever eventos como a criação da luz, da atmosfera e das plantas, é preciso recordar que isso se trata de revelação na qual se crê como ato de fé. Teria a ciência algo a dizer a esse respeito? Teria o evolucionismo vantagem sobre o criacionismo, pelo fato de este apontar para eventos não observáveis e irreproduzíveis? Mas e as pressuposições darwinistas sobre as origens da atmosfera, das plantas, etc., seriam comprováveis cientificamente?

A insuficiência da ciência em explicar fenômenos pretéritos singulares pode ser visualizada na mais recente proposta do biólogo alemão Ernst Mayr (1904-2005). Considerado o principal acadêmico darwinista do século 20 (700 artigos científicos e 25 livros produzidos ao longo de 80 anos dedicados ao evolucionismo), no fim de sua intensa e extensa vida acadêmica, escreveu com bastante lucidez seu último livro: What Makes Biology Unique? (O que torna singular a Biologia?, 2004). Nessa obra, Mayr, de maneira pouco ortodoxa, subdivide a filosofia da biologia em dois ramos fundamentais que, em princípio, não devem ser confundidos: um pertence à biologia funcional e o outro se refere à biologia histórica (ou biologia evolucionista).

Enquanto na biologia funcional a experimentação científica é frequentemente utilizada (ciências naturais), a biologia evolucionista é caracterizada por cenários imaginários, narrativas hipotéticas em que, evidentemente, a experimentação não é apropriada (Mayr, 2004). Mas, se a biologia histórica não pertence ao campo do empirismo científico, deveríamos, então, em princípio, ser capazes de identificar a verdadeira fonte de conhecimentos – de natureza, evidentemente, não científica – de onde são extraídos os referidos cenários imaginários. Proposições filosóficas oriundas do naturalismo ontológico caracterizam muito bem a componente não científica da filosofia da biologia evolucionista ateísta.

Com efeito, narrativas hipotéticas habilmente construídas – mundo pré-biótico anterior ao registro fóssil, lentas mudanças macroevolutivas durante a formação do próprio registro fóssil, etc. – representam não apenas um frágil alicerce para os modelos das origens, mas também se mostram incompatíveis com a própria realidade dos fatos.  Os prejuízos resultantes da adoção de uma cosmovisão evolucionista (conhecimento científico e naturalismo ontológico) – em que determinados argumentos científicos são mesclados com ou complementados por conceitos derivados de uma filosofia ateísta (figura 1) – são claramente notados, como podemos verificar nas seguintes incoerências:

Figura 1. Cosmovisão Evolucionista


  1. A divinização da “mãe natureza” (tida como capaz de gerar e manter a vida, com toda a sua complexidade).
  2. O endeusamento da própria seleção natural (tida como capaz de criar e manter a extraordinária biodiversidade).
  3. Para a formação da coluna geológica, são atribuídos longos períodos de tempo, milhões de anos (utilizados para caracterizar eventos catastróficos e contínuos).


Por outro lado, cientistas criacionistas (“pais” da ciência moderna) – a exemplo de Isaac NewtonRobert Boyle, Adam Sedgwick e Louis Pasteur –, em suas atividades sistemáticas de investigação científica, bem como nas questões sobre as origens, reconheceram tanto a eficácia como as limitações das ciências naturais. Frequentemente, complementavam o conhecimento científico com conceitos e argumentos oriundos do conhecimento bíblico (e vice-versa). [Assista ao vídeo “Um milagre em forma de livro”, para conhecer argumentos sobre a confiabilidade da Bíblia Sagrada.]

A harmonia entre essas duas fontes de conhecimento legítimo (conhecimento científico e conhecimento bíblico), certamente não coíbe o cientista verdadeiramente cristão no aprofundamento de suas investigações sistemáticas do mundo natural. As extraordinárias conquistas científicas alcançadas pelos pais da ciência moderna estão intimamente ligadas a duas motivações principais: o progresso científico para honra e glória de Deus e o progresso para o benefício da humanidade (na verdade, segundo alguns pesquisadores, essas foram as motivações que favoreceram o desenvolvimento do método científico: confira).

Assim, de acordo com a cosmovisão criacionista – que se fundamenta tanto no conhecimento bíblico-histórico como no conhecimento científico (figura 2) –, as muitas evidências e a plena certeza da existência de um Deus Criador e Mantenedorconstituem o estímulo, por excelência, à pesquisa científica no campo das ciências naturais. Na física e na química, são identificadas as fantásticas leis – criadas por Deus – que regem o comportamento da matéria; leis fundamentais para a existência da própria vida. No campo da biologia, não existe a estranha motivação de se tentar criar vida em laboratório, mas sim de identificar as ações de uma causa inteligente, ou as inúmeras digitais do Criador (Designer Inteligente) no mundo dos seres vivos, desde sua origem até sua atual e extraordinária biodiversidade.


Figura 2. Cosmovisão Criacionista

Na esfera de ação das geociências, a inestimável e vantajosa contribuição da narrativa bíblica do Dilúvio possibilita ainda construir modelos muito esclarecedores. A visão diluvianista da coluna geológica e do impressionante registro fóssil fanerozoico amplia os horizontes do conhecimento científico, incorporando os mais extraordinários fenômenos geológicos globais (impactos de gigantescos meteoritos, ação devastadora de grandes volumes de água, catastróficas manifestações vulcânicas [LIPs], etc.). Isso sem os embaraços e os incalculáveis prejuízos acadêmicos promovidos pela geocronologia padrão (princípio fundamental da geologia evolucionista).

As evidências da fidedignidade da Bíblia e de seu Autor – Deus – são tão extraordinárias e amplas, que por si só garantem a autossubsistência desse precioso Livro, independentemente de qualquer tipo de apoio promovido pela ciência [assista também à palestra “O Autor da história da vida”]. No entanto, a investigação científica, quando corretamente conduzida, revela informações compatíveis com as Sagradas Escrituras. Mais do que isso, a correta associação do conhecimento bíblico e o conhecimento científico poderá descortinar horizontes importantes, ainda não investigados, pertinentes ao campo de atuação da geologia em particular e da própria ciência em geral.

A existência de Deus e a inspiração divina da Bíblia não podem ser provadas empiricamente, assim como a macroevolução, a origem evolutiva da vida e outras proposições darwinistas também não podem ser provadas cientificamente. Mas, entre muitas evidências, a formação da Terra e a criação da própria vida fornecem “digitais” mais que suficientes para que possamos identificar a assinatura do grande Designer (Rm 1:19, 20).


Conclusões


Há quem pense que o Universo pode ter surgido do “nada”. Mas o chamado vácuo quântico (o “nada”, para alguns) não tem nada que ver com o “nada”. Conforme escreveu William Lane Craig, em seu livro Em Guarda,

“para a física moderna, o vácuo não é o que o leigo entende como ‘vácuo’, ou seja, como nada. Antes, para a física o vácuo é um mar de energia flutuante regido pelas leis da física e que tem uma estrutura física. Dizer a um leigo que, com base nessas teorias, podemos dizer que algo veio do nada significa distorcê-las. Se devidamente entendido, o ‘nada’ não significa apenas o espaço vazio. Nada é a total ausência do que quer que seja, até mesmo do próprio espaço. Como tal, a condição de nada não possui, literalmente falando, nenhuma propriedade, uma vez que não existe nada para ter propriedades! É uma tolice, portanto, o que esses popularizantes da física argumentam quando dizem ‘O nada é instável’ ou ‘O universo encapsulou e passou a existir a partir do nada’!” (p. 83).

O fato é que somente Deus pode criar (bara’) algo a partir do nada absoluto (ex nihilo). E Ele criou o Universo com uma intenção. O ajuste fino das leis que regem a realidade, as constantes, a matéria, a energia – tudo isso parece dizer que o Universo foi feito para nos receber (alguns chamam essa compreensão – ou algo parecido com isso – de “princípio antrópico”). É exatamente o que diz Isaías 45:18.

Em Gênesis 1:1 e 2, Moisés afirma que, “no princípio, criou Deus os céus e a Terra. A Terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”. Quando foi esse “princípio”? Teria Deus criado todo o Universo nesse momento? Teria Ele criado apenas a parte inorgânica da Terra, há milhões ou mesmo bilhões de anos, tendo, depois, há alguns milênios (de seis a dez), iniciado a criação da vida no planeta? Teria Ele criado o Universo há bilhões de anos e o nosso sistema solar há alguns milhares de anos? Essa discussão é relativamente antiga entre os criacionistas, justamente pelo fato de a Bíblia não precisar o tempo da criação da Terra e do Universo. Mas existe unanimidade em um detalhe: a vida foi criada aqui há cerca de seis mil anos. E cada ato criativo de Deus na semana da criação revela ordem, propósito e inteligência.

– Leia sobre as maravilhas da luz (aqui) e da água (aqui).

lição desta semana enfatiza o contraste entre o relato bíblico da criação e os mitos de outras culturas antigas. Ela diz que “esse ponto de vista acerca da criação é exclusivo dos hebreus entre todos os povos do mundo antigo. A maioria das histórias não bíblicas sobre a criação fala de conflito e violência na criação. Os homens modernos também criaram uma história popular sobre a criação da Terra por meio da violência. Segundo essa história, Deus deliberadamente teria criado um mundo em que os recursos eram escassos, causando competição entre os indivíduos, fazendo com que os mais fracos fossem eliminados pelos mais fortes. De acordo com essa história moderna, com o tempo os organismos se tornaram mais e mais complexos, finalmente produzindo os seres humanos e todos os outros organismos vivos a partir de um ancestral comum. No entanto, os ‘deuses’ da teoria da evolução (mutações aleatórias e seleção natural) não são iguais ao Deus da Bíblia, que é o Defensor dos fracos e generoso Provedor para todas as criaturas. Morte, sofrimento e outros males não foram causados por Deus. Ao contrário, surgiram como resultado natural da rebelião contra Seu bom governo”.

A teoria da evolução e a cosmogonia (estudo da origem do Universo) falam de caos a partir do qual teriam surgido a vida e toda a sua organização. Já o relato bíblico da criação apresenta a ordem, o planejamento e o carinho de um Deus que “formou a Terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada” (Is 45:18). Esse mesmo Deus continua criando ordem onde antes havia apenas o caos – mesmo que seja no microuniverso do coração humano.


Michelson Borges, jornalista pela UFSC e mestre em teologia pelo Unasp.
Nahor Neves de Souza Jr., geólogo pela Unesp e doutor em engenharia pela USP.

Fonte: CPB

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