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domingo, 3 de janeiro de 2016

Tubarão martelo: Martelada mortal na evolução?

Assisti hoje a coisa mais bizarra do mundo. E tô irritado até agora, pois foi demais da conta. Um documentário no NatGeo sobre tubarões chega ao seu ápice com os tubarões martelo e os descreve como uma maravilha sem-par de tecnologia e sofisticação. Mestres em manobras e capazes, com seu cérebro exótico, de detectar peixes enterrados no fundo do mar por variações de bilionésimos de volts. E aí o bizarro dos bizarros: sem medo de ser feliz e falar a maior estupidez do mundo, pois me desculpem, mas foi pura estupidez televisiva (quase liguei para o Procon), o sujeito diz que há algo muito “estranho” com os tubarões martelo, algo errado que não está certo, sim, e eu sei o que é, pois eles não evoluíram aquele “martelo magnífico” lenta, gradual e sucessivamente, mas o “martelo” teria surgido do “nada”, há mais de 400 milhões de anos e, de fato, seus martelos antes eram até maiores, a julgar pelo registro fóssil, sendo um exemplo “incrível” de “adaptação imediata”.

Gente, pode tal absurdo em “rede nacional de TV”?! Uma maravilha de tecnologia e sofisticação, um radar de altíssima sensibilidade, um cérebro hiper mega high techsurgindo do “nada”... Uns trocentos milhões de mutações benéficas todas de uma só vez e de primeira? Santa enganação! Devem achar que somos todos “retardados”.

Me desculpem pela falta de educação, mas tô irritado com tanta enganação e besteirol, tudo por culpa de uma vontade de negar o óbvio. Só porque idolatram Darwin, detestam a ideia de um designer e não gostam da inevitável conclusão de que tubarões martelo foram projetados por um ser de extrema inteligência e maestria sem-par neste Universo. Mas isso vai em breve acabar, ah vai...

Fonte: Dr. Marcos Eberlin via Criacionismo.
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sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Erros comuns dos que negam a “Terra jovem” (datação sequestrada pela filosofia!)

Desde a ascensão do uniformitarianismo geológico, no início do século 19, muitos [...] têm se rendido a essa nova “ciência”. Consequentemente, têm rejeitado a simples e tradicional interpretação histórico-gramatical dos relatos da criação e do dilúvio. Com frequência, recorrem a raciocínios equivocados a fim de dar suporte à sua reinterpretação comprometida. A seguir, discutiremos os três erros mais comumente cometidos.

Apelando ao “propósito” do texto

Defensores da Terra antiga frequentemente apelam ao “propósito” do relato da criação, em geral reivindicando ser ele primeiramente teológico em vez de histórico. Por exemplo, Bruce Waltke, citando Charles Hummel, argumenta que Gênesis 1–2 não seria um relato puramente descritivo respondendo a perguntas do tipo “o quê?”, “como?” e “o que seria?”[1] Ao contrário, seria prescritivo, uma vez que responde ao “como”, ao “por que” e ao que “deveria ser”. Consequentemente, o relato de Gênesis a respeito da criação e da queda discutiria assuntos teológicos gerais em vez de descrever eventos históricos reais. Similarmente, Bernard Ramm afirma que as Escrituras “nos dizem enfaticamente que Deus criou, mas silenciam sobre como Deus teria criado. Isso nos diz que as estrelas, as flores, os animais, as árvores e o homem são criaturas de Deus, mas como Deus os produziu não é algo afirmado em lugar algum nas Escrituras”.[2]

Entretanto, tal visão simplesmente não se alinha com o que as Escrituras realmente afirmam. Como Walter Kaiser responde, “[esse é] um óbvio desprezo da frase repetida dez vezes, ‘e Deus disse’...”.[3] Certamente, a ação criativa de Deus é descrita com precisão usando os verbos “criou”, “fez”, “disse”, “chamou”, “estabeleceu”, “formou”, “causou”, “tomou”, “plantou” e “abençoou”. Além disso, essas atividades são descritas do início ao fim, e se espalham por um período de seis dias. Em outras palavras, o relato de Gênesis descreve exatamente a forma como Deus criou, a ordem na qual Ele criou, e o tempo de Sua ação criativa – e assim entendiam os escritores do Novo Testamento.[4] Se, de outra forma, tudo o que o autor pretendia comunicar era que “Deus é o Criador de todas as coisas”, então com certeza o primeiro verso seria suficiente.

Da mesma forma, Bill Arnold afirma: “A importante lição de Gênesis 1 é que [Deus] de fato criou todas as coisas, e que Ele o fez de forma boa e ordenada em todos os aspectos.” Ele adiciona: “Se fosse importante saber quanto tempo levou para Deus criar o mundo, a Bíblia teria deixado isso claro.”[5] Contudo, o relato da criação diz explicitamente que Deus criou em seis dias. O primeiro dia foi seguido por um segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto dia, quando a criação foi finalizada (Gênesis 2:1-2). Êxodo 20:11 confirma que Deus criou “em seis dias”. O que poderia ser mais claro?[6]

Ninguém duvida, é claro, de que Gênesis faça uma contribuição teológica fundamental, mas dizer que Gênesis é primariamente teológico em vez de histórico é estabelecer uma falsa dicotomia; história e teologia não são mutuamente exclusivas. “O fato é que toda a Bíblia apresenta sua mensagem como teologia dentro de um quadro histórico.”[7] Por exemplo, a ressurreição de Jesus é uma doutrina teológica fundamental, mas seria inútil a menos que tivesse ocorrido historicamente (1 Coríntios 15).

De qualquer modo, a intenção e o propósito dos autores da Bíblia são certamente expressos no próprio texto. De que outra forma o leitor pode saber a intenção do autor se não pelo que o autor de fato afirma no texto? Do contrário, o significado do texto teria que ser descoberto primeiro, antes que houvesse qualquer expectativa de se determinar a intenção do autor. Sugestões de intenção e propósito que não sejam derivadas diretamente do próprio texto só podem vir da imaginação de quem interpreta. Portanto, atribuir intenção e propósito não diretamente derivados do texto é subjugar as Escrituras à imaginação do intérprete.

Exigência de conformidade às atuais visões científicas

Os mesmos crentes na Terra antiga exigem que qualquer interpretação seja consistente com as visões “científicas” atualmente aceitas. Contudo, são por si mesmos seletivos e inconsistentes em sua exigência por conformidade científica. Conquanto rápidos em repreender criacionistas bíblicos (defensores da Terra jovem) por defenderem interpretações dos relatos de Gênesis, no que diz respeito à criação e ao dilúvio, que parecem ir contra as visões científicas atuais, muitos não têm problema em aceitar interpretações literais da concepção virginal, dos milagres de Cristo, e da ressurreição – todos os quais parecem ir contra visões científicas atuais!

Veja o milagre de Jesus ao transformar água em vinho (João 2:1-11) como um exemplo dessa inconsistência. Poucos (se algum) defensores da Terra antiga que se declaram evangélicos com uma visão elevada das Escrituras duvidariam que Cristo literalmente e milagrosamente transformou água em vinho. Entretanto, esse ato é cientificamente impossível! Água simplesmente não possui os átomos de carbono que o vinho possui. Mesmo que fornecêssemos esses átomos na forma de açúcar e fermento, o processo de fermentação levaria tempo (várias semanas), mas o texto indica que isso tudo ocorreu de forma instantânea. Por que, então, os defensores da Terra antiga não reinterpretam esse (e outros) relatos? Por que aceitar alguns atos sobrenaturais de Deus e outros não?

Revisionismo histórico

É difícil encontrar exemplos piores de reescrita histórica do que aquelas feitas por muitos evangélicos defensores da Terra antiga, com respeito à visão histórica da igreja sobre o relato da criação.[8] Essas visões históricas equivocadas são refutadas detalhadamente noutro artigo.[9] A interpretação objetiva do relato da criação descrevendo uma Terra jovem tem sido a visão tradicionalmente aceita pela igreja ao longo de sua história até a ascensão do pensamento iluminista, no Século 18.[10] David Hall lamenta: “O registro histórico é abundantemente claro nesse ponto; entretanto, convencer alguns teólogos a renunciar uma opinião conflitante com a história real é o equivalente à extração do dente do siso. Alguém precisa questionar essa teimosa resistência, especialmente quando confrontada com tanta informação factual. Por que, pergunto, ótimos e piedosos teólogos lutariam contra a história com tanta energia quando os argumentos contra isso são tão claros?”[11]

Outros exemplos de revisionismo histórico realizado por evangélicos que defendem uma Terra antiga incluem o tratamento que a Igreja supostamente deu a Colombo e a Galileu. Segundo esses evangélicos, esses “cientistas” estavam corretos, enquanto a dogmática igreja estava errada, e devemos ser cuidadosos para não cometer os mesmos erros atualmente. [Leia “O mito da Terra plana”.Clique aqui.] 

Frederico I, imperador do Sacro Império Romano, como cruzado, segurando uma orb, que representa a Terra, com uma cruz no topo, simbolizando o senhorio de Cristo

Tais conclusões são baseadas na crença tradicional de que, antes de fazer sua histórica viagem em 1492, Cristóvão Colombo compareceu diante de uma multidão de teólogos dogmáticos e inquisidores ignorantes, todos crentes que as Escrituras ensinavam que a Terra era plana. Colombo então partiu a fim de provar que todos eles estavam errados, velejando ao redor do globo. Embora seja verdade a ocorrência de uma reunião em Salamanca, no ano 1491, essa ideia comumente aceita do que teria ocorrido não possui um pingo de verdade. O historiador Jeffrey Burton Russel identifica Washington Irving (1783-1859), um notável escritor norte-americano de ficção histórica, como uma das primeiras fontes desse “conto popular”.[12] Irving criou o relato fictício de um inexistente conselho universitário e deixou sua imaginação correr livremente.[13] O relato inteiro é “enganador e perniciosamente sem sentido”.[14] Russell demonstrou que, com pouquíssimas exceções, do século 3 a.C. em diante, todo cidadão educado no mundo ocidental acreditava que a Terra era um globo. Não é, portanto, acidental que reis medievais fossem presenteados com uma orb (esfera), representando a Terra como símbolo do seu poder.

Da mesma forma, é comum acreditar que as observações e os argumentos de Galileu ofereceram apoio esmagador à teoria de Copérnico (de que a Terra orbita o Sol), mas os teimosos, dogmáticos e ignorantes teólogos da Igreja Católica quiseram silenciar Galileu com medo de que sua tradicional interpretação das Escrituras fosse exposta como equivocada. Isso por medo de que tal fato invalidasse a reivindicação da igreja como autoridade da interpretação bíblica. Contudo, como demonstrou Thomas Schirrmarcher, “a apresentação do processo contra Galileu como um heroico cientista se posicionando contra o dogmatismo de mente limitada da igreja cristã repousa inteiramente sobre um mito, não sobre uma pesquisa histórica”.[15, 16]

Os desacordos entre cientistas e teólogos da época refletiam não um conflito entre o cristianismo e a ciência, mas um conflito entre a filosofia aristotélica e a ciência.[17] Galileu era um cientista convencido da verdade e acurácia das Escrituras. Ele era tido em alta estima pela igreja; sua primeira defesa do sistema copernicano, Letras e Raios de Sol (1613), foi bem recebida, com nenhuma crítica levantada. Certamente o cardeal Barberini, posteriormente papa Urbano VIII, responsável pela sentença em 1633, esteve entre os que congratularam Galileu por sua publicação.[18] Assim, os maiores inimigos de Galileu não estavam na igreja; ao contrário, estavam entre seus colegas e companheiros cientistas, muitos dos quais negavam o sistema copernicano[19] e temiam perder posição e influência.[20] De Santillana escreveu: “Sabe-se há muito tempo que grande parte dos intelectuais da igreja eram favoráveis a Galileu, enquanto a oposição mais clara vinha das ideias seculares.”[21]

A ironia nisso tudo é que são os que defendem uma Terra antiga que precisam aprender a lição com o que ocorreu com Galileu.[12] Galileu chegou à conclusão correta crendo totalmente na acurácia da Bíblia, enquanto seus colegas cientistas chegaram à conclusão errada por se basearem no consenso científico da época (o aristotelianismo). A igreja vem sendo pintada como inimiga da ciência quando, na verdade, os companheiros e colegas cientistas de Galileu é que foram os maiores inimigos da ciência verdadeira.

Não deixe que aqueles que negam uma leitura objetiva do relato da criação escapem quando trazem esse tipo de argumento falacioso. Se você ouvir pessoas apresentarem tais argumentos, desafie-as a justificar sua posição, e aponte – gentilmente – os erros sobre fatos e lógica.

Referências e notas:
[1] Waltke, B.K., “The first seven days”, Christianity Today 32:45, 1988.
[2] Ramm, B., The Christian View of Science of Scripture, Paternoster, London, 1955, p. 70.
[3] Kaiser, W.C., “Legitimate hermeneutics”; in: Geisler, N.L. (ed.), Inerrancy, Zondervan, Grand Rapids, Michigan, 1980, p. 147.
[4] Cosner, L., “The use of Genesis in the New Testament”, Creation 33(2):16-19, 2011,creation.com/nt; Sarfati, J., “Genesis: Bible authors believed it to be history”, Creation 28(2):21-23, 2006, creation.com/gen-hist
[5] Arnold, B.T., Encountering the Book of Genesis, Baker, Grand Rapids, Michigan, 1998, p. 23.
[6] Gênesis é escrito como história, não poesia. Veja as entrevistas com o especialista nos escritos do Antigo Testamento Dr. Robert McCabe, Creation32(3):16-19, 2010; e o especialista em hebraico Dr. Ting Wang, Creation 27(4):48-51, 2005,creation.com/wang
[7] Goldsworthy, G., Preaching the Whole Bible as Christian Scripture, IVP, Leicester, 2000, p. 24.
[8] Veja particularmente Hugh Ross (Creation and Time, NavPress, Colorado Springs, 1994, p. 16-24; (com Gleason Archer) The Day-Age Response; em: D. G. Hagopian, D.G., (editor), The Genesis Debate, Crux Press, Mission Viejo, California, 2001, p. 68-70), Don Stoner (A New Look at an Old Earth, Harvest House, Eugene, Oregon, 1997, p. 117-119), e Roger Forster e Paul Marston (Reason, Science and Faith, Monarch, Crowborough, East Sussex, 1999, p. 188-240).
[9] Kulikovsky, A.S., “Creation and Genesis: a historical survey”, Creation Research Society Quarterly 43(4):206-219, 2007.
[10] Veja a lista de idades já calculadas para a criação, por Batten, D., “Old-earth or young-earth belief; which belief is the recent aberration?” Creation 24(1):24-27, 2001,creation.com/old-young
[11] Hall, D.W., “The evolution of mythology: classic creation survives as the fittest among its critics and revisers”; em: Pipa, J.A. e Hall, D.W. (eds.), Did God Create in Six Days? Southern Presbyterian Press, Taylors, SC, 1999, p. 276.
[12] A outra pessoa que deu origem a esse conto popular foi Antoine-Jean Letronne (1787-1848), um acadêmico antirreligião que publicou On the Cosmological Ideas of the Church Fathers (1834). Veja Jeffrey Burton Russell,Inventing the Flat Earth, Praeger, London, 1997, p. 49-51, 58-59.
[13] Russell, ref. 12, p. 40-41, 52-54.
[14] Russell, J.B., “The Myth of the Flat Earth”, texto não publicado, apresentado na American Scientific Affiliation Conference, Westmont College, 4 de Agosto, 1997; http://www.veritas-ucsb.orgAlguns anos antes, ele ressaltou que esse relato foi listado entre os cinco maiores mitos históricos, por meio da Historical Society of Britain.
[15] Schirrmacher, T., “The Galileo Affair: History or Heroic Hagiography?”Journal of Creation 14(1):91-100, 2000.
[16] Sarfati, J., “Galileo Quadricentennial; myth vs fact”, Creation 31(3):49-51, 2009, creation.com/gal-400
[17] Ramm, ref. 2, p. 36. Forster e Marston (Reason and Faith, 293) concordam que é impreciso usar o caso de Galileu como um exemplo de ciência versusreligião.
[18] Schirrmacher, ref. 12, p. 92.
[19] Certamente, a grande maioria dos cientistas naquele tempo rejeitava o sistema copernicano. Veja Barber, B., “Resistance of scientists to scientific discovery”, Science 134:596-602, 1961; Custance, A.C., Science and Faith: The Doorway Papers VIII, Grand Rapids, Michigan, 1984, p. 157.
[20] Schirrmacher, ref. 15; Drake, S. (editor e tradutor), Discoveries and Opinions of Galileo, Doubleday, New York, 1957.
[21] de Santillana, G., The Crime of Galileo, University of Chicago Press, Chicago, 1955, p. xii
[22] Grigg, R., “The Galileo ‘twist’”, Creation 19(4):30–32, 1997, creation.com/gal-twist

Fonte: Andrew S. Kulikovsky é bacharel em Ciências da Computação e Informação pela Universidade de South Australia e mestre em Estudos Bíblicos e Teologia pela Lousiana Baptist University. É autor do livro Creation, Fall, Restoration: A Biblical Theology of Creation, artigo traduzido de Creation 33(3):41-43, julho de 2011 por Nathan Vinícius/revisão de Daniel Ruy Pereira do blog Considere a Possibilidade.
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Os dias da criação são literais?


Segundo Gerhard F. Hasel, falecido professor de Teologia Bíblica e Antigo Testamento na Andrews University, nos Estados Unidos, a semântica (estudo linguístico dos significados de palavras, frases, cláusulas, etc.) chama atenção para a questão crucial do significado exato da palavra hebraica yom. Poderia a designação “dia” (yom) em Gênesis 1 ter um significado figurativo? Ou deve ela ser entendida, com base nas normas da semântica, como um dia literal de 24 horas? Algumas pessoas, numa tentativa de evitar maiores problemas com o evolucionismo, aplicam a teoria dos dias-eras ao relato de Gênesis 1. Para elas, os seis dias da criação são, na verdade, longos períodos de tempo. Será que isso é possível? Antes de mais nada, é preciso deixar claro que o termo yom em Gênesis 1 não se liga a qualquer preposição; não é usado em uma relação construtiva; e não tem nenhum indicador sintático que seria de esperar para um uso extensivo não literal.



Nas Escrituras, a palavra yom invariavelmente significa um período literal de 24 horas, quando precedida por um numeral, o que ocorre 150 vezes no Antigo Testamento. Obviamente, no relato da criação existe sempre um numeral precedendo aquela palavra – primeiro, segundo, terceiro... sétimo dia – e essa regra para a tradução de yom como um dia literal aplica-se neste caso. O que parece ser significativo também é a ênfase dada à sequência dos numerais 1 a 7, sem qualquer hiato ou interrupção temporal.

Esse esquema de sete dias (seis dias de trabalho seguidos por um sétimo dia de repouso) interliga os dias da criação como dias normais em uma sequência consecutiva e ininterrupta. O relato da criação em Gênesis 1 não somente liga cada dia a um numeral sequencial, como também estabelece as fronteiras do tempo mediante a expressão “tarde e manhã” (versos 5, 8, 13, 19, 31). 

A frase rítmica “e houve tarde e manhã” provê uma definição para o “dia” da criação; e, se o “dia” da criação constitui-se de tarde e manhã, é, portanto, literal. O termo hebraico para “tarde” – ‘ereb – abrange toda a parte escura do dia (ver dia/noite em Gênesis 1:14). O termo correspondente, “manhã” (em hebraico boqer), representa a parte clara do dia. “Tarde e manhã” é, portanto, uma expressão temporal que define cada dia da criação como literal. Não pode significar nada mais. 

Outro tipo de evidência interna no Antigo Testamento para o significado dos dias resulta de duas passagens sobre o sábado no Pentateuco, que se referem aos dias da criação. Elas informam como os dias da criação foram compreendidos por Deus. A primeira passagem faz parte do quarto mandamento do Decálogo, e está registrada em Êxodo 20:9-11. A ligação com a criação transparece no vocabulário (“sétimo dia”, “céus e terra”, “descansou”, “abençoou”, “santificou”) e no esquema “seis mais um”. 

As palavras usadas nos Dez Mandamentos deixam claro que o “dia” da criação é literal, composto por 24 horas, e demonstram que o ciclo semanal é uma ordenança temporal da criação. Aliás, como explicar a origem do ciclo semanal, se não pela criação em seis dias literais seguidos do repouso do sétimo dia? A semana não está vinculada a nenhum movimento ou fenômeno astronômico, como os dias (rotação da Terra), os anos (translação) e os meses. A palavra divina, que promulga a santidade do sábado, toma os seis dias da criação como sequenciais, cronológicos e literais. Dizer o contrário, portanto, é ir contra o Criador. 

Por fim, uma última consideração: a criação da vegetação ocorreu no terceiro dia (ver Gênesis 1:11 e 12). Grande parte dessa vegetação parece ter necessitado de insetos para a polinização. Mas os insetos só foram criados no quinto dia (verso 20). Se a sobrevivência desses tipos de plantas, que necessitam de insetos e outros animais para a polinização, dependesse deles para a reprodução, então haveria um sério problema se o “dia” da criação significasse “era”. 

Ainda mais: a teoria dos dias-eras exigiria um longo período de iluminação e outro de escuridão para cada uma das supostas épocas. Isso, é claro, seria fatal tanto para as plantas quanto para os animais. Os dias da criação devem ser entendidos como literais e não como representando longos períodos de tempo. Argumentar em contrário é forçar o texto bíblico a dizer o que não diz. 

Fonte: Adaptado de Folha Criacionista n° 53, setembro de 1995, p. 26-30 – Sociedade Criacionista Brasileira via Criacionismo.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Os Filósofos de Deus: como o mundo medieval estabeleceu os fundamentos da ciência moderna! (O mito da “Idade das Trevas”)

por Tim O’Neill

(Traduzido do inglês para o português de Portugal.) O meu interesse pela ciência Medieval foi largamente estimulado por um livro. Por volta de 1991, quando eu era um aluno de pós-graduação empobrecido e frequentemente esfomeado na Universidade da Tasmânia, dei com uma cópia do livro de Robert T. Gunther com o título de “Astrolabes of the World” – 598 páginas-fólio de astrolábios islâmicos, Medievais e Renascentistas meticulosamente catalogados, cheio de fotos, diagramas e listas estreladas, bem como uma vasta gama de outro tipo de informação.
Dei com ele, e de forma bem apropriada e não incidental, nos “Astrolabe Books” de Michael Sprod – no piso de cima de um dos lindos e antigos armazéns de arenito que se encontram alinhados num lugar com o nome de “Salamanca Place” (…). Infelizmente, o livro custava $200, o que por aquela altura era o equivalente ao que eu tinha para gastar durante o mês inteiro.
Mas o Michael já estava habituado a vender livros a estudantes empobrecidos, e devido a isso, não almocei e fiz um adiantamento de $10 e, durante vários meses, regressava todas as semanas para dar o mais que podia até que eventualmente consegui levá-lo para casa, embrulhado em papel castanho duma forma que só as livrarias Hobart se preocupam em fazer. Há poucos prazeres mais gratificantes do que aquele em que se tem nas mãos o livro que há já muito tempo se quer ler.
Filosofos_de_Deus_Gods_PhilosophersTive outra experiência igualmente gratificante quando, há algumas semanas atrás, recebi uma cópia do livro deJames Hannam com o título de “God’s Philosophers: How the Medieval World Laid the Foundations of Modern Science [“Os Filósofos de Deus: Como o Mundo Medieval Estabeleceu os Fundamentos da Ciência Moderna”].
Há já alguns anos que brinco com a ideia de criar um site dedicado à ciência e à tecnologia Medieval como forma de tornar públicas as mais recentes pesquisas em torno do tópico, e também para refutar os mitos preconceituosos que caracterizam esse período como uma Idade das Trevas repleta de superstição irracional. Felizmente, hoje posso riscar essa tarefa da minha lista porque o suberbo livro de Hannam fez esse trabalho por mim, e em grande estilo.
A Idade das Trevas Cristã e Outros Mitos Histéricos
Um do riscos ocupacionais de se ser um ateu e um humanista secular que divaga por fórums de discussão é o de encontrar níveis assombrosos de ignorância histórica. Gosto de me consolar com a ideia de que muitas das pessoas que se encontram em tais fórums adoptaram o ateísmo através do estudo da ciência, e como tal, mesmo que essas pessoas tenham conhecimentos avançados em áreas tais como a geologia e a biologia, o seu conhecimento histórico encontra-se parado no nível secundário. Geralmente, eu costumo agir assim porque a alternativa é admitir que o entendimento histórico médio da pessoa comum, e a forma como a História é estudada, é tão frágil que se torna deprimente.
Logo, para além de ventilações regulares de mitos cabeludos tais como o da Bíblia ter sido organizada no Concílio de Niceia, ou do enfadonho disparate cibernético de que “Jesus nunca existiu!”, ou também do facto de pessoas inteligentes estarem a propagar alegações pseudo-históricas que fariam com que até Dan Brown suspirasse com escárnio, o mito de que a Igreja Católica causou a Idade das Trevas, e que o Período Medieval foi um vazio científico, é regularmente empurrado com um carrinho-de-mão ferrugento para a linha da frente como forma de o expor por toda a arena.
O mito diz que os Gregos e os Romanos eram sábios e pessoas racionais que amavam a ciência, e que estavam à beira de fazer todo o tipo de coisas maravilhosas (normalmente, a invenção de máquinas a vapor de grande porte é inocentemente invocada) até que o Cristianismo chegou. O Cristianismo baniu, então, todo o conhecimento e todo o pensamento racional, e inaugurou a Idade das Trevas.
Durante este período, diz o mito, a teocracia com punho de ferro, apoiada pela Inquisição ao estilo da Gestapo, impediu que fosse feita qualquer actividade científica, ou qualquer actividade de investigação, até que Leonardo da Vinci inventou a inteligência e o Renascimento nos salvou a todos das trevas Medievais.
As manifestações cibernéticas desta ideia curiosamente pitoresca, mas aparentemente infatigável, variam de quase atabalhoadas a totalmente chocantes, mas a ideia continua a ser uma daquelas coisas que “toda a gente sabe”, e que permeia a cultura moderna.
Um episódio recente da série “Family Guy” exibiu o Stewie e o Brian a entrar num mundo alternativo futurista onde, foi-nos dito, as coisas eram avançadas desse modo porque o Cristianismo não havia destruído o conhecimento, dado início à Idade das Trevas, e impedido o desenvolvimento da ciência. Os escritores não sentiram a necessidade de explicar o significado das palavras de Stewie porque assumiram que toda a gente sabia.
Cerca de uma vez a cada 3 ou 4 meses em fórums tais como RichardDawkins.Net temos algumas discussões onde sempre aparece alguém a invocar a “Tese do Conflicto”. Isso evolui para o normal ritual onde a Idade Média é retratada como um deserto intelectual onde a humanidade se encontrava algemada pela superstição e oprimida pelos cacarejadores asseclas da Velha e Maligna Igreja Católica.
Os velhos estandartes são apresentados na altura certa: Giordano Bruno é apresentado como um mártir da ciência, nobre e sábio, e não como o irritante místico “Nova Era” que ele era. Hipatia é apresentada como outra mártir deste tipo, e a mitológica destruição da Grande Biblioteca de Alexandria é falada num tom silencioso, apesar de ambas estas ideias serem totalmente falsas.
O incidente em torno de Galileu é apresentado como evidência dum cientista destemido a opor-se ao obscurantismo científico da Igreja, apesar do incidente ter tanto a ver com a ciência como com as Escrituras. E, como é normal, aparece sempre alguém a exibir um gráfico (ver mais embaixo), que eu dei o nome de “A Coisa Mais Errada de Sempre da Internet”, e a mostrá-lo triunfalmente como se o mesmo fosse prova de algo que não do facto da maior parte das pessoas serem totalmente ignorantes da História, e incapazes de ver que algo como “Avanço Científico” nunca pode ser quantificado, e muito menos pode ser representado visualmente num gráfico.
Ciencia_Idade_Media_Segundo_Os_Ignorantes

Não é difícil pontapear este disparate e reduzi-lo a nada, especialmente porque as pessoas que o apresentam não só não sabem quase nada de História, como também tudo o que fazem é repetir ideias estranhas como esta que eles viram em sites e livros populares. Estas alegações entram em colapso mal tu as atacas com evidências sólidas.
Eu gosto de embaraçar por completo estes propagadores perguntando-lhes que me apresentem um – um só – cientista que foi queimado, perseguido, ou oprimido durante a Idade Média por motivos científicos. Eles são incapazes de me apresentar um único nome. Normalmente, eles tentam forçar Galileu de volta à Idade Média, o que é engraçado visto que ele foi contemporâneo de Descartes.
Quando lhes é perguntado o porquê deles serem incapazes de apresentar um único nome dum cientista que tenha sofrido por motivos científicos, visto que aparentemente a Igreja esta ocupada a oprimi-los, eles normalmente alegam que a Velha e Maligna Igreja fez um trabalho tão bom a oprimi-los que todas as pessoas passaram a ter medo de fazer ciência.
Quando eu lhes apresento uma lista de cientistas da Idade Média – tais como Albertus MagnusRobert GrossetesteRoger BaconJohn Peckham, Duns Scotus,Thomas BradwardineWalter BurleyWilliam HeytesburyRichard SwinesheadJohn DumbletonRichard de WallingfordNicholas Oresme,Jean Buridan e Nicolau of Cusa – e lhes pergunto o porquê destes homens levarem a cabo a sua actividade científica durante a Idade Média alegremente e sem terem sofrido qualquer tipo de interferência por parte da Igreja, os meus adversários frequentemente coçam as cabeças confusos sobre o que foi que correu mal.
A Origem dos Mitos
A forma como os mitos que deram origem “A Coisa Mais Errada de Sempre da Internet”surgiram encontra-se bem documentada em vários livros em torno da história da ciência. Mas Hannam inteligentemente lida com eles nas páginas iniciais do seu livro visto que seria provável que eles viessem a formar uma base que levasse muitos leitores do público geral a olhar com suspeição para a ideia dos fundamentos Medievais da ciência moderna.
Uma melange purulenta envolvendo a intolerância do Iluminismo, os ataques anti-papistas feitos por Protestantes, o anti-clericalismo Francês, e a arrogância Classicista, levou a que o período Medieval ficasse caracterizado como uma era de atraso e superstição – o oposto do que a pessoa comum associa com a ciência e com a razão.
Hannam não só mostra como polemistas tais como Thomas HuxleyJohn William Draper, e Andrew Dickson White – todos eles com o seu preconceito anti-Cristão – conseguiram moldar a ainda presente ideia de que a Idade Média foi uma era vazia de ciência e de conhecimento racional, como revela que só quando historiadores no verdadeiro sentido do termo se incomodaram em colocar em causa os polemistas através das obras de pioneiros na área, tais como Pierre DuhemLynn Thorndike, e o autor do meu livro sobre o astrolábio,  Robert T. Gunther, que as distorções dos preconceituosos começaram a ser corrigidas através pesquisas fiáveis e vazias de preconceito .
Esse trabalho foi agora completado pela mais recente gama de modernos historiadores da ciência tais como David C. LindbergRonald Numbers, e Edward Grant. Na esfera académica pelo menos a “Tese do Conflicto” duma guerra histórica entre a ciência e a teologia há muito que foi colocada à parte.
É, portanto, estranho que tantos dos meus amigos ateus se agarrem de forma tão desesperada a uma posição há muito morta que só foi mantida por polemistas amadores do século 19, em vez de se agarrarem às  pesquisas apuradas levadas a cabo por historiadores objectivos e actuais, e que cujas obras foram alvo de revisão por pares. Este comportamento é estranho especialmente quando o mesmo é levado a cabo por pessoas que se intitulam de “racionalistas”.
Falando em racionalismo, o ponto crucial que o mito obscurece é precisamente o quão racional a pesquisa intelectual foi durante a Idade Média. Embora escritores tais comoCharles Freeman continuem a alegar que o Cristianismo matou o uso da razão, a realidade dos factos é que graças ao encorajamento de pessoas tais como Clemente de Alexandria e Agostinho em favor do uso da filosofia dos pagãos, e das traduções das obras de lógica de Aristóteles, e de outros feitas, por Boécio, a investigação racional foi uma das jóias intelectuais que sobreviveu ao colapso catastrófico do Império Romano do Ocidente, e foi preservada durante a assim-chamada Idade das Trevas.
O soberbo livro God and Reason in the Middle Ages de Edward Grant detalha precisamente isto com um vigor característico, mas nos seus primeiros 4 capítulos Hannam faz um bom resumo deste elemento-chave. O que torna a versão histórica de Hannam mais acessível do que a de Grant é que ele conta-a através das vidas das pessoas-chave da altura – Gerbert de Aurillac, Anselmo, Guilherme de Conches, Adelardo de Bath, etc.
Algumas das pessoas que fizeram uma avaliação [inglês: “review] do livro de Hannam qualificaram esta abordagem de um bocado confusa dado que o enorme volume de nomes e mini-biografias podem fazer com que as pessoas sintam que estão a aprender um bocado sobre um vasto número de pessoas. Mas dada amplitude do tópico de Hannam, isto é francamente inevitável e a abordagem semi-biográfica é claramente mais acessível que a pesada e abstracta análise da evolução do pensamento Medieval.
Hannam disponibiliza também um excelente resumo da Renascimento do Século 12 que, contrariando a percepção popular e contrariando “o Mito”, foi efectivamente o período durante o qual o conhecimento antigo invadiu a Europa Ocidental. Longe de ter sido resistido pela Igreja, foram os homens da Igreja que buscaram este conhecimento junto dos muçulmanos e das Judeus da Espanha e da Sicília.
E longe de ter sido resistido e banido pela Igreja, o conhecimento foi absorvido e usado para formar a base do programa de estudo dessa outra grande contribuição Medieval para o mundo: as universidades que começavam a aparecer um pouco por todo o mundo Cristão.
Deus e a Razão
Deus_Razao_Ciencia_Idade_MediaO encapsulamento da razão no centro da pesquisa, combinada com o influxo do “novo” conhecimento Grego e Árabe, deu início a uma autêntica explosão de actividade intelectual na Europa, começando no Século 12 e avançando por aí em adiante. Foi como se o estímulo súbito de novas perspectivas e as novas formas de olhar para o mundo tenham caído em terreno fértil numa Europa que, pela primeira vez em séculos, encontrava-se em paz  relativa, era próspera, olhava para o exterior, e era genuinamente curiosa.
Isto não significa que as forças mais conservadoras e reaccionárias não tenham tido dúvidas em relação às novas áreas de pesquisa, especialmente em relação à forma como a filosofia e a especulação em torno do mundo natural e em torno do cosmos poderia afectar a teologia aceite. Hannam é cuidadoso para não fingir que não houve qualquer tipo de resistência ao florescimento do novo pensamento e da investigação, mas, ao contrário dos perpetuadores “do Mito”, ele leva em consideração essa resistência mas não a apresenta como tudo o que há para saber sobre esse período.
De facto, os esforços dos conservadores e dos reaccionários eram normalmente acções de retaguarda e foram em quase todas as instâncias infrutíferas nas suas tentativas de  limitar a inevitável inundação de ideias que começou a jorrar das universidades. Mal ela começou, ela foi literalmente imparável.
De facto, alguns dos esforços dos teólogos de colocar alguns limites ao que poderia e não poderia ser aceite através do “novo conhecimento”, geraram como consequência o estímulo da investigação, e não a sua constrição.
As “Condenações de 1277” tentaram afirmar algumas coisas que não poderiam ser declaradas como “filosoficamente verdadeiras”, particularmente aquelas coisas que colocavam limites à Omnipotência Divina. Isto teve o interessante efeito de mostrar que Aristóteles havia, de facto feito alguns erros graves – algo que Tomás de Aquinas havia colocado ênfase na sua altamente influente Summa Theologiae:
As condenações e a Summa Theologiae de Aquinas haviam gerado um enquadramento dentro do qual os filósofos naturais poderiam prosseguir os seus estudos em segurança, e esse enquadramento havia estabelecido o princípio de que Deus havia decretado as leis naturais mas que Ele não Se encontrava limitado pelas mesmas. Finalmente, esse enquadramento declarou que Aristóteles esteve por vezes errado. O mundo não era “eterno segundo a razão” e “finito segundo a fé”. O mundo não era eterno. Ponto final.
E se Aristóteles poderia estar errado em algo que ele considerava certamente certo, isso colocava em dúvida toda a sua filosofia. Estava assim aberto o caminho para que os filósofos naturais da Idade Média avançassem de forma mais firme para além das façanhas dos Gregos. (Hannam, pp 104-105)
E foi exactamente isso que eles passaram a fazer. Longe de ser uma era sombria e estagnada, tal como o foi a primeira metade do Período Medieval (500-1000), o periodo que vai desde o ano 1000 até ao ano 1500 é, na verdade, o mais impressionante florescimento da pesquisa e da investigação científica desde o tempo dos antigos Gregos, deixando muito para trás as Eras Helénicas e Romanas em todos os aspectos.
Com Occam e Duns Scotus a avançarem com a abordagem crítica aos trabalhos de Aristóteles para além da abordagem mais cautelosa de Aquinas, estava aberto o caminho para que os cientistas Medievais dos Séculos 14 e 15 questionassem, examinassem e testassem as perspectivas que os tradutores dos Séculos 12 e 13 lhes haviam dado, e isto com efeitos surpreendentes:
Durante o século 14, os pensadores medievais começaram a reparar que havia algo seriamente errado em todos os aspectos da filosofia Natural de Aristóteles, e não só naqueles aspectos que contradiziam directamente a Fé Cristã. Havia chegado o momento em que os estudiosos medievais seriam capazes de começar a sua busca como forma de avançar o conhecimento……enveredando por novas direcções que nem os Gregos e nem os Árabes haviam explorado. O seu primeiro avanço foi o de combinar as duas disciplinas da matemática e da físicas duma forma que não havia sido feita no passado. (Hannam p. 174)
A história deste avanço, e os espantosos estudiosos de Oxford que o levaram a cabo e, desde logo, lançaram as bases da ciência genuína – os “Calculadores de Merton” – muito provavelmente merece um livro separado, mas o relato de Hannam certamente que lhes faz justiça e é uma secção fascinante da sua obra.
Os nomes destes pioneiros do método científico – Thomas BradwardineWilliam HeytesburyJohn Dumbleton e o deliciosamente nomeado Richard Swineshead – merecem ser conhecidos. Infelizmente, a obscurecedora sombra “do Mito” significa que eles continuam a ser ignorados ou desvalorizados até mesmo em histórias da ciência recentes e populares. O resumo de Bradwardine do discernimento-chave que estes homens trouxeram para a ciência é uma das citações mais importantes da ciência inicial e ela merece ser reconhecida como tal:
[A matemática] é a reveladora da verdade genuína…..quem quer que tenha o descaramento de estudar a física ao mesmo tempo que negligencia a matemática, tem que saber desde o princípio que nunca entrará pelos portais da sabedoria. (Citado por Hannam, p. 176)
Estes homens não só foram os primeiros a aplicar de forma genuína a matemática à física, como desenvolveram funções logarítmicas 300 anos antes de John Napier, e o Teorema da Velocidade Média 200 anos antes de Galileu. O facto de Napier e Galileu serem creditados por terem descoberto coisas que os estudiosos Medievais já haviam desenvolvido é mais um indicador da forma como “o Mito” tem distorcido a nossa percepção da história da ciência.
Nicolas_OresmeSemelhantemente, a física e a astronomia de Jean Buridan e de Nicholas Oresme eram radicais e profundas, mas de modo geral, desconhecidas para o leitor comum.  Buridan foi um dos primeiros a comparar os movimentos do cosmos com os movimentos daquela que é outra inovação Medieval: o relógio. A imagem dum universo a operar como um relógio, imagem essa que passou a ser usada com sucesso pelos cientistas até aos dias de hoje, começou na Idade Média.
E as especulações de Oresme em relação a uma Terra em rotação mostra que os estudiosos Medievais alegremente contemplavam ideias que (para eles) eram razoalmente estranhas como forma de ver se funcionariam; Oresme descobriu que esta ideia em especial na verdade funcionava muito bem.
Dificilmente estes homens eram o resultado duma “idade das trevas” e as suas carreiras estão conspicuamente livres de qualquer tipo de Inquisidores e de ameaças de queimas tão amadas e sinistramente imaginadas pelos fervorosos proponentes “do Mito”.
Galileu, Inevitavelmente.
Tal como dito em cima, nenhuma manifestação “do Mito” está completa se que o Incidente de Galileu seja mencionado. Os proponentes da ideia de que durante a Idade Média a Igreja sufocou a ciência e a racionalidade têm que empurrá-lo para a linha da frente visto que, sem ele, eles não têm exemplos da Igreja a perseguir alguém por motivos relacionados à pesquisa do mundo natural.
A ideia comum de que Galileu foi perseguido por estar certo em relação ao heliocentrismo é uma total simplificação dum assunto complexo, e um que ignora o facto do principal problema de Galileu não ser só que as suas ideias estavam em desacordo com a interpretação das Escrituras, mas também em desacordo com a ciência dos seus dias.
Ao contrário da forma como este assunto é normalmente caracterizado, nos dias de Galileu o ponto principal era o facto das objecções científicas ao heliocentrismo ainda serem suficientemente poderosas para impedirem a sua aceitação.
Em 1616 o Cardeal Bellarmine deixou bem claro para Galileu que se aquelas objecçõescientíficas pudessem ser superadas, então as Escrituras poderiam e deveriam ser reinterpretadas. Mas enquanto essas objecções se mantivessem, a Igreja, compreensivelmente, dificilmente iria derrubar séculos de exegese em favor duma teoria errónea. Galileu concordou em só ensinar o heliocentrismo como um dispositivo de cálculo teórico, mas depois mudou de ideia e, num estilo típico, ensinou-a como um facto. Isto causou a que em 1633 ele fosse acusado pela Inquisição.
Hannam disponibiliza o contexto para tudo isto com detalhe adequado numa secção do livro que também explica a forma como o Humanismo do “Renascimento” causou a que uma nova vaga de estudiosos não só tenha buscado formas de idolatrar os antigos, mas também formas de voltar as costas às façanhas de estudiosos mais recentes tais como Duns Scotus, Bardwardine, Buridan, e Orseme.
Consequentemente, muitas das suas descobertas e muitos dos seus avanços ou foram ignorados, ou foram esquecidos (só para serem redescobertos independentemente), ou foram desprezados mas silenciosamente apropriados. O caso de Galileu usar o trabalho dos estudiosos Medievais sem reconhecimento é suficientemente condenador.
Na sua ânsia de rejeitar a “dialéctica” Medieval e emular os Gregos e os Romanos – que, curiosamente, e de muitas formas, fez do “Renascimento” um movimento conservador e retrógrado – eles rejeitaram desenvolvimentos e avanços genuínos dos estudiosos Medievais. Que um pensador do calibre Duns Scotus se tenha tornado primordialmente conhecido como a etimologia da palavra “dunce” é profundamente irónico.
Por melhor que seja a parte final do livro, e por mais valiosa que seja a análise razoavelmente detalhada das realidades em torno do Incidente de Galileu, tenho que dizer que os últimos 4 ou 5 capítulos do livro de Hannam passam a ideia de terem falado de coisas que eram demasiado complicadas de se “digerir”. Eu fui capaz de seguir o seu argumento facilmente, mas eu estou bem familiarizado com o material e com o argumento que ele está a avançar.
Acredito que para aqueles com esta ideia do “Renascimento”, e para aqueles com a ideia de que Galileu nada mais era que um mártir perseguido da ciência e um génio, a parte final do livro pode avançar duma forma demasiado rápida para eles entenderem. Afinal de contas, os mitos têm uma inércia muito pesada.
Pelo menos uma pessoa que reviu o livro parece ter achado o peso dessa inércia demasiado dura para resistir, embora seja provável que ela tenha a sua própria bagagem para carregar. Nina Powerescrevendo para a revista New Humanist, certamente que parece ter tido alguns problemas em deixar de parte a ideia da Igreja a perseguir os cientistas Medievais:
Só porque a perseguição não era tão má como poderia ter sido, e só porque alguns pensadores não eram as pessoas mais simpáticas do mundo, isso não significa que interferir no seu trabalho ou banir os seus livros era justificável nessa altura ou que seja justificável nos dias de hoje.
Bem, ninguém disse que era justificável; explicar como é que ela surgiu, e o porquê dela não ter sido tão extensa como as pessoas pensam, e como ela não teve a natureza que as pessoas pensam que teve, não é “justificar” nada, mas sim corrigir um mal-entendido pseudo-histórico.
Dito isto, Power tem algo que parece ser a razão quando salienta que “A caracterização de Hannam dos pensadores [do Renascimento] como ‘reaccionários incorrigíveis’ que ‘quase conseguiram destruir 300 anos de progresso na filosofia natural’ está em oposição com a sua caracterização mais cuidada daqueles que vieram antes.” No entanto, isto não é porque a caracterização está errada, mas sim porque a dimensão e a extensão do livro realmente não lhe dão espaço para fazer justiça a esta ideia razoavelmente complexa, e, para muitos, radical. (…)
Deixando isso de parte, este é um livro maravilhoso, e um antídoto acessível e brilhante contra “o Mito”. Ele deveria estar na lista de Natal de qualquer Medievalista, estudioso da história da ciência, ou de qualquer pessoa que tem um amigo equivocado que ainda pensa que as luzes da Idade Média eram acesas queimando cientistas.
Fonte: Armarium Magnum via Darwinismo. (Artigo escrito brilhantemente por um, até aqui, ateu!)
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