Século 5
|
Agostinho, bispo de
Hipona (no norte da África) durante a parte inicial do quinto século e,
provavelmente, o mais influente filósofo teológico na história do mundo
ocidental, mudou o ponto focal do desenvolvimento da teologia trinitariana
depois do Concílio de Constantinopla, com descrições adicionais de
Jesus Cristo. (A história da igreja relembra esse fato como as controvérsias
cristológicas do quinto e sexto séculos.). O trinitarianismo como um todo
também começou a desenvolver-se em novas direções, avançando em linha
espirituais e teológicas! Agostinho aceitou a fórmula trinitária
basicamente conforme declarada pelo Concílio de Constantinopla,
concordou com o termo grego homoousios
– o mesmo que o Concílio de Nicéia utilizara mais de 50 anos atrás. No
início do quinto século o cristianismo já havia estabelecido uma fórmula em
termos gregos e seus correspondentes termos latinos a qual era bem aceita
pela maior parte da igreja (exemplos: homoousios
no grego, substancia em latim, o
mesmo que substância. Hypostasis no
grego, persona em latim, termos
usados para expressar a individualidade e a personalidade do Pai, do Filho e
do Espírito Santo dentro da unidade da Divindade.).
|
|
“Sobre a Trindade”,
livro de Agostinho que descreve
sua própria busca de um conhecimento mais profundo de Deus. Ali ele apresenta
sua compreensão trina de Deus como resultado de seus estudos bíblicos e de
seu relacionamento com Ele – Três Pessoas diferentes compartilhando a mesma
natureza! Segundo Agostinho, conhecer a Deus não era uma questão de
apresentar a fórmula “três em um”, ou tentar compreender o mistério de Deus
nas características de Sua natureza compartilhada, Sua onisciência ou Sua
eternidade. Em vez disso, ele sugeriu que, conhecer a Deus também envolve
experimentar Seu amorável caráter, um caráter que permanece sendo mistério
mesmo depois de havermos apresentado cada descrição e interpretado cada
revelação das Escrituras! A mais completa descrição de Deus nem chega a ser um
conhecimento superficial dEle! No entanto, ainda assim, encontra-se à
disposição conhecimento suficiente para que o cristão consiga entender a
dinâmica básica da salvação, e saber como relacionar-se com Ele e com os
demais seres humanos, à vista de Deus. No final de sua obra, Agostinho
anunciou seu glorioso fracasso, pois embora houvesse descoberto muito,
aprendido muito e conhecido muito, ainda assim não fora capaz de apreender a
Deu. Tal compreensão, segundo ele, terá de esperar até que cheguemos ao Céu! “Sobre a Trindade” também foi o mais
meticulosamente elaborado e intricadamente definido tratado filosófico sobre
a Trindade até os seus dias, obviamente com base nas Escrituras. Com o tempo
muitas partes do livro tornaram-se parte do dogma trinitariano da Igreja
Católica medieval, mas a igreja organizou-o de acordo com a fórmula
trinitariana expressa pelo Concílio de
Constantinopla. Dentro do conjunto de livros que compõem a obra de
Agostinho, encontramos esclarecimentos adicionais dentro da Divindade aos
quais os concílios de Nicéia e Constantinopla fizeram alusão, mas
não definiram com precisão. São tentativas agostinianas no sentido de definir
com maior rigor o relacionamento entre as Três Pessoas de um só Deus, mas que
distorcem o entendimento escriturístico ao colocar o Pai como fonte geradora
do Filho e do Espírito!
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terça-feira, 13 de novembro de 2012
Cronologia da historicidade da doutrina bíblica da Trindade - 8ª parte
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sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Cronologia da historicidade da doutrina bíblica da Trindade - 7ª parte
Século 4
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Ulfila foi um missionário cristão, possivelmente descendente
de um soldado romano tomado cativo pelo exército godo invasor da Ásia Menor
no terceiro século. Ele falava fluentemente o grego e o latim e conhecia bem
tanto a cultura greco-romana quanto a cultura gótica, na qual crescera. Ele foi
enviado como missionário cristão os godos, tendo sido consagrado pelo bispo
de Nicomédia Eusébio, por volta de 340 d.C. (Eusébio estudara com Ário sob a
instrução de Luciano de Antioquia, e foi uma das três pessoas que se
posicionaram a favor de Ário no Concílio de Nicéia, em 325. Por isso, muitos
assumem que Eusébio era simpatizante dos arianos, e que deve ter consagrado
Ulfila como um missionário ariano, o que tornaria arianos os conversos de
Ulfila.) Embora seja fato que Eusébio defendesse a absolvição de Ário, não
está claro se ele concordava com a interpretação que este tinha do Cristo
como ser criado. Também não se sabe se Eusébio concordou com a fórmula nicena
do homoousios (da mesma natureza).
O mais provável é que o cristianismo ensinado por Ulfila aos godos fosse
ambíguo acerca do Pai e do Filho, e não uma exposição da doutrina ariana
real! Após 7 anos de serviço missionário direto, Ulfila foi expulso do
território gótico em virtude de conexões suspeitas com os inimigos romanos.
No entanto, sua influência sobre os godos não cessou – ele gastou vários anos
seguintes colocando a linguagem gótica sob a forma escrita e traduzindo a
maior parte das Escrituras ao idioma gótico! Durante esse tempo Ulfila ainda
se opunha à fórmula nicena e favorecia o termo ambíguo homoion (similar), em vez de homoousios.
Sua tendência apareceu na tradução que efetuou da Bíblia gótica, dando-lhe
uma sutil inclinação antitrinitariana!
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Século
5
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Quaisquer
que fossem as crenças dos godos a
respeito da Divindade, quando essas tribos cristãs começaram a invadir o Império Romano cristão durante o
quinto século, seus inimigos “ortodoxos” os rotularam como arianos. Tivessem
ou não diferenças teológicas entre si, os dois lados utilizavam terminologia
diferente para descrever a Divindade. Havia razões políticas de ambos os
lados para ver a outra parte como herética, o que passava a justificar a
animosidade mútua. Por não haver motivação real para o mútuo entendimento, ao
longo dos poucos séculos seguintes, cristãos góticos e romanos buscaram
alternadamente destruir-se uns aos outros ou coexistir lado a lado. Cada
parte buscou manter sua própria identidade através dos rótulos “ariano” e
“trinitariano”, até que a corrente principal da igreja, com sua descrição
trinitariana da Divindade, absorveu as tribos góticas, possivelmente através
da influência de alguns de seus parentes germânicos do oeste, os quais
aceitaram o cristianismo em estágio posterior, já seguramente firmado sobre o
sistema de crença trinitariano.
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Pesquisa baseada no livro "A Trindade" de Woodrow Whidden, Jerry Moon e John W. Reeve. Ela está em construção. Aguardem sua conclusão! (Hendrickson Rogers)
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Cronologia da historicidade da doutrina bíblica da Trindade - 6ª parte
Século 4
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Teólogos desafiaram Basílio
quanto ao uso que ele fazia das preposições “com” e “junto com” na bênção: “Glória
ao Pai com o Filho juntamente com o Espírito Santo”. Eles
defendiam que essa oração utilizada no final dos cultos deveria ser: “Glória ao Pai através do Filho no
Espírito Santo”. Basílio contra-argumentou que as Escrituras não fazem uma
distinção tão clara quanto ao uso de preposições relativas às Três Pessoas da
Divindade. Teólogos argumentaram que o uso de preposições específicas
manteria a subordinação do Filho e do Espírito ao Pai. Basílio
demonstrou a Partir das Escrituras que tal subordinação do Filho envolve
apenas a Sua encarnação! E ele contra-argumentou ainda que, embora o uso tão
preciso de preposições fosse comum na filosofia, ele era estranho às
Escrituras. Destacou que a Bíblia utiliza praticamente todas as combinações
de preposições comuns para descrever o Pai, o Filho e o Espírito Santo! Basílio
repassou literalmente dezenas de passagens escriturísticas demonstrando o
amplo uso de preposições aplicadas a todas as Três Pessoas divinas, anulando
a aparente subordinação existente na Divindade! (Para uma pequena amostra,
cf. Rm 11:36; Mt 1:20 e Gl 6:8).
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Basílio venceu
intelectualmente o argumento a partir das Escrituras, mas pragmaticamente foi
através da prática da adoração cristã que ele persuadiu os bispos cristãos a
reconhecerem o Espírito Santo como plenamente Deus! Ele demonstrou como no
batismo e na oração os cristãos haviam adorado igualmente o Pai, o Filho e o
Espírito Santo através dos séculos, a despeito de todos os argumentos
teológicos do quarto século. Todos os grupos, com a possível exceção do
partido defensor de heteroousios de
Eunômio, haviam continuado a
adorar o Pai e o Filho, a despeito de sua teologia. Basílio provou isso
poderosamente nos últimos capítulos de seu livro Sobre o Espírito Santo, e as reflexões que ele provocou
estabeleceram as bases para que o Concílio
de Constantinopla reconhecesse plenamente o Filho e o Espírito Santo como
pessoas da Divindade, ao lado do Pai!
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É verdade
que ambos os Concílios, de Nicéia e o de Constantinopla, fizeram algumas declarações que, comparadas com a
Bíblia, são rejeitáveis. Mesmo alguns aspectos da compreensão que Atanásio teve do Filho, como sua
descrição dEle como “eternamente gerado”, mais criam problemas do que os resolvem!
Embora os Concílios e os teólogos
cristãos não sejam autoridades proféticas, como seguidores da Palavra de Deus, temos a oportunidade
de reconhecer a validade de argumentos como os de Basílio, por exemplo, a partir da Bíblia! Como cristãos
bíblicos, não aceitaremos a fórmula trinitariana baseados na autoridade
dos dogmas do Catolicismo ou na
autoridade dos dogmas de nossa
denominação cristã, mas a aceitaremos pelo fato de que ela melhor representa
o que as Escrituras dizem a
respeito do Pai, do Filho e do Espírito Santo como sendo Deus!
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As demais partes da pesquisa: Primeira aqui. Segunda parte desta Cronologia aqui! A terceira parte aqui e a quarta, aqui! Quinta parte aqui. (Hendrickson Rogers)
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Cronologia da historicidade da doutrina bíblica da Trindade - 5ª parte
Século 4
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Diversas circunstâncias na década que antecedeu o
Concílio de Constantinopla, em 381, prepararam o caminho para esse encontro,
no qual a fórmula trinitariana finalmente se tornou a teologia ortodoxa
oficial da igreja cristã. Um dos eventos com repercussão extremamente
importante sobre o concílio foi a coroação do imperador Teodósio, que se
achava comprometido com a fórmula homoousios.
Durante 50 anos, cada novo imperador havia assumido diferentes compromissos
com os vários grupos teológicos. O imperador Juliano, por exemplo, durante um
breve período até mesmo tentou levar o império de volta ao paganismo e
afastá-lo do cristianismo. O imperador Valêncio, que morreu em 378, foi o
último dos imperadores a abertamente favorecer o arianismo e dar apoio a
teólogos arianos. É duvidoso afirmar se o apoio ou a oposição do imperador,
por si só, haveria sido capaz de determinar o resultado final do Concílio de
Constantinopla, pois apenas 75 anos antes outro imperador – Diocleciano –
havia tentado manipular e destruir a igreja por meio da força e fracassara! O
cristianismo se expandira por séculos, a despeito da censura ou da aprovação
imperial!
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Outro fator
a preparar o caminho para o concílio foram os escritos teológicos e a
liderança política de três teólogos da Capadócia: Basílio de Cesaréia, Gregório
de Nazianzo (amigo de Basílio) e o irmão mais novo de Basílio chamado Gregório de Nissa. Eles se tornaram a
força teológica e política por trás do trinitarianismo quando o velho Atanásio deixou o cenário. Basílio
comparou a situação de bispos e imperadores mudando de ideia e trocando de
lado com “uma batalha naval sendo
travada em meio a uma furiosa tempestade, na qual as duas esquadras se
encontram tão destruídas pela tormenta que as bandeiras não podem mais ser
vistas, os sinais não mais são reconhecidos, e a pessoa não mais consegue
distinguir entre seus aliados e seus inimigos” (de seu livro “On the Holy
Spirit”)! Os três teólogos da
Capadócia escreveram tratados e cartas, explorando e solidificando a
teologia trinitariana e criando uma terminologia padronizada. Falaram do Pai,
Filho e Espírito Santo como sendo simultaneamente três quanto à personalidade
(hypostasis), mas apenas um em
relação à natureza (ousia). Os
capadócios estenderam a natureza compartilhada do Pai e do Filho ao Espírito
Santo, clarificando assim este ponto vago do Credo de Nicéia. Em sua obra Sobre o Espírito Santo, Basílio
argumentou em favor do reconhecimento da relação entre Pai, Filho e Espírito
Santo como sendo de uma mesma substância e de igual status, portanto igualmente dignos de adoração!
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Pesquisa baseada no livro "A Trindade" de Woodrow Whidden, Jerry Moon e John W. Reeve. Ela está em construção. Aguardem sua conclusão!
As demais partes da pesquisa: Primeira aqui. Segunda parte desta Cronologia aqui! A terceira parte aqui e a quarta, aqui! (Hendrickson Rogers)
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domingo, 30 de setembro de 2012
Análise histórico-teológica de Mateus 28:19
INTRODUÇÃO Atualmente têm surgido no meio cristão alguns críticos da Bíblia com ideias as mais incomuns. Entre estas se encontra a de que Mateus 28:19 não é autêntico, mas uma adulteração feita pela Igreja Católica. O presente artigo visa combater esta ideia fazendo uma análise dentro da história, da teologia, dos pais da igreja e de códices antigos para se chegar a uma conclusão confiável e séria acerca do assunto.
Algumas perguntas surgem naturalmente quando este tema é apresentado:
1. Mateus 28:19 é autêntico?
2. Existe referências às três pessoas da Trindade antes do concílio de Nicéia em 325 d.C.?
3. A palavra Trindade somente foi criada pelo papa no concílio de Nicéia?
1.0 Análise de manuscritos
O texto de Mateus 28:19 consta nos melhores e mais antigos manuscritos do NT, tanto nos chamados “maiúsculos” (unciais) como nos “minúsculos”.[1] Se houvesse ao menos um texto antigo confiável em que a fórmula de Mateus 28:19 não aparecesse poderia se levantar a hipótese de que sua origem era duvidável. Este, porém, não é o caso.
A fórmula trinitária também encontra-se no manuscrito mais importante produzido no Egito, o álef (a) ou 01 (Códice Sinaítico) o que desqualifica qualquer suposição de que tenha sido fruto de adulteração do texto, visto que hoje é considerado um dos mais fidedignos aos originais: “O Códice sinaítico (álefe) é o manuscrito grego do século IV considerado em geral a testemunha mais importante do texto, por causa de sua antiguidade, exatidão e inexistência de omissões.”[2]
A fórmula trinitária já era conhecida na Síria, ambiente onde se teria originado o evangelho de Mateus, antes do ano 100 d.C.[3] Aliás, embora a Peshita não seja a mais importante fonte para a pesquisa do texto original da Bíblia, a frase “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” encontra-se também no texto da Peshita, editada pela Sociedade de Pesquisa das Escrituras Aramaicas em Israel e publicada pela Sociedade Bíblica em Jerusalém.[4]
A seguir, apresentar-se-á fotos de manuscritos Unciais onde a fórmula de Mateus 28:19 está presente:
CÓDICE SINAÍTICUS
CÓDICE WHASHINGTONIANO
CÓDICE ALEXANDRINUS DO V SÉCULO E SEGUE O BIZANTINO DO SÉC. III.
CÓDICE VATICANUS DO IV SÉCULO E SEGUE O TEXTO ALEXANDRINO DO SÉC. II
1.1 Mateus 28:19 – versões antigas
1. Texto Ocidental: II Séc.
2. Texto Alexandrino: II Séc.
3. Texto Cesareense: III Séc.
4. Siríaco Peshita: II Séc.
5. Diatessaron: 160 d.C., autor: Taciano
6. Siríaco Antigo: Mais antiga que Peshita e existe nos manuscritos sinaítico e curetoniano.
1.2 Mateus 28:19 – textos latinos
1. LATIM ANTIGO: Esta denominação é para distinguir dos manuscritos posteriores, como os da Vulgata. Estes manuscritos já existiam ao final do II séc. d.C. Suas traduções são da LXX e chegaram até nós muito fragmentadas; tem duas tradições: Africana, Européia; foi produzida no II Séc. e é anterior ao Textus Receptus.
1.3 Mateus 28:19 – versões coptas
COPTA (egípcio). São quatro as versões do Antigo Testamento nesta língua:
1. A saídica ou tebaica foi preparada no século II d.C., no sul do Egito, com base na LXX.
2. A Boárica ou Menfítica, no século IV d.C., no norte do Egito.
3. A Fayúmica .
4. Akhmímica: Com poucos fragmentos, conhece-se também as versões.
2.0 Fontes históricas e Pais da Igreja
A seguir ver-se-á algumas fontes históricas, entre outras, que demonstram a existência e uso da fórmula trinitária muito antes do século IV:
2.1 Fonte Histórica
2.1.1 A Didaquê (70-150 d.C.). A fórmula batismal, conforme prescrita em Mateus 28:19, aparece nesta obra, conhecida também como O ensino dos doze apóstolos. Ela foi escrita na forma de uma carta circular às igrejas cristãs na província romana da Síria perto da virada do primeiro século de nossa era. Alguns estudiosos sugerem uma data mais antiga que faria da obra o primeiro escrito cristão até hoje existente além do Novo Testamento”.[5]
“Quanto ao batismo, batizareis na forma seguinte: tendo antecipadamente disposto todas as coisas, batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, em água viva, se não houver água viva batizai em outra água; se não puderdes em água fria, batizai em água quente. Se não tiverdes nem uma nem outra, derramai água na cabeça três vezes em o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” (70-150 d.C.)[6]
Mateus e a Didaquê são idênticos. Evidenciam que o batismo trinitário acontecia no primeiro século d.C.:
Mateus: βαπτίζοντες αὐτοὺς εἰς τὸ ὄνομα
Tradução: em nome.
Didaquê: βαπτίσατε εἰς τὸ ὄνομα
Tradução: em nome.
Mateus: τοῦ πατρὸς καὶ τοῦ υἱοῦ καὶ τοῦ ἁγίουπνεύματος.
Tradução: do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
Didaquê: τοῦ πατρὸς καὶ τοῦ υἱοῦ καὶ τοῦ ἁγίουπνεύματος.
Tradução: do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
Pai, Filho e Espírito Santo estão no batismo do próprio Jesus. Isto favorece a associação e paralelo com Mateus 28:19. A tríplice presença não é um elemento novo no evangelho e nem nas epístolas Paulinas e em Pedro (2Co 13:13; 1Co 12:4–6; cf. 1Co 6:11; Gl 4:6; 1Pe 1:2).
2.2 Pais da Igreja
2.2.1 Clemente de Alexandria (Egito, 150-215 d.C.) também utilizava a fórmula trinitária. A Didaquê desfrutava de tal prestígio na igreja cristã primitiva que Clemente a considerava uma autoridade apostólica e a citava como “Escritura”.[7]
2.2.2 Justino, o mártir (100-162 d.C.) foi morto por defender o monoteísmo triúno cristão : "um só Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo"[8] em oposição ao politeísmo pagão, e por isso foi martirizado exatamente em Roma que ainda era pagã. Justino foi contemporâneo de Policarpo, discípulo do apóstolo João, também escreveu vários livros, dos quais somente três obras apologéticas subsistiram. Ele escreveu:
“Então eles são trazidos por nós onde há água, e são regenerados da mesma maneira na qual nós fomos regenerados. No nome de Deus, o Pai eSenhor do universo, e de nosso Senhor Jesus Cristo, e do Espírito Santo, eles o recebem lavando com água então.”[9] (ano 100-162 d.C. grifo suprido).
No capítulo LXV da mesma obra, é dito:
“Depois de termos lavado desta maneira (batizado) aquele que se converteu e deu o consentimento seu, o conduzimos aos irmãos reunidos para em comum oferecer orações por nós mesmos [...] Ao terminar as orações, mutuamente nos saudamos com o ósculo de paz e, logo, traz-se ao presidente o pão e um cálice de vinho com água. Ele os recebe, oferecendo-osao Pai de todas as coisas num tributo de louvores e glorificações, em nome do Filho e do Espírito Santo, dando graças por sermos considerados dignos de tamanhos favores de sua clemência”[10] (Ano 100 a 163 d.C, grifo suprido)
2.2.3 Irineu, bispo de Lião (França, 125-202 d.C.), foi instruído em sua juventude por Policarpo de Esmirna, discípulo do apóstolo João. Escreveu um pequeno manual de doutrinas cristãs denominado Demonstração da Pregação Apostólica, conhecido também como Epideixis. Irineu morreu em Lião durante um massacre de cristãos em 202 d.C.[11] Em seu pequeno manual, no artigo 3, ele escreveu:
“Agora a fé ocasiona isto para nós; como os Anciãos, os discípulos dos Apóstolos, nos passaram. Em primeiro lugar é licito ter em mente que nós recebemos o batismopara a remissão de pecados, no nome de Deus o Pai, e no nome de Jesus Cristo, o Filho de Deus que foi encarnado e morreu e subiu novamente, e no Espírito Santo de Deus.”[12] (grifo suprido)
2.2.4 Tertuliano (África, c.150-212 d.C.) também indica a tríplice fórmula batismal como utilizada para o exame dos candidatos ao batismo em seus dias.[13]
Outros líderes cristãos mantinham o pensamento sobre a Trindade bem antes do IV século. A palavra Trindade também foi usada por Tertuliano em seus dias, sem nem mesmo tratar do tema da Divindade, portanto, tanto a noção como a palavra já existiam antes do concílio de Nicéia. Estes fatos e documentos mostram o uso da fórmula batismal, com as três pessoas da Trindade, bem próxima à época dos apóstolos, conforme a ordem dada por Cristo em Mateus 28:19, o que dificulta a afirmação de que seria uma tradição posterior, originada no III ou IV século.
CONCLUSÃO
Dizer que Mateus 28:19 é fruto de adulterações da ICAR, é no mínimo falta de conhecimento histórico, teológico e de manuscritos antigos. Portanto:
1. A Bíblia registra de forma confiável o batismo trinitário.
2. A fórmula trinitária encontra-se nos mais antigos documentos cristãos, antes do quarto século.
3. A fórmula encontra-se inclusive na tradução aramaica da Peshita.
Pode-se até concluir com um dito popular: “o pior cego é aquele que não quer enxergar”.
Fonte: Demóstenes. Adaptado por Eleazar Domini.
[1] ALAND, K. et all., The text of the New Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1994. p. xi-liii.
[2] GEISLER, M.; NIX, W. Introdução bíblica: como a Bíblia chegou até nós. SP: Vida, 2003, p. 142.
[3] Idem.
[4] The New Covenant Commonly Called The New Testament – Peshita Aramaic Text with a Hebrew Translation. Edited by The Aramaic Scriptures Research Society in Israel. Jerusalém: The Bible Society, 1986, p. 42, 43.
[5] OLSON, R. E. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo: Editora Vida, 2001, p. 43.
[6] Didaquê, 7. In: BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. São Paulo: ASTE, s/d. p. 101 (Grifo nosso).
[7] Pelikan and Hotchkiss, Creeds and Confession of Faith in the Christian Tradition, Yale University Press, New Haven and London, vol. 1, 2003, p. 43.
[8] Idem.
[9] JUSTINO MÁRTIR, Apologia I LXI (grifo nosso). Cf. Justino Apol.1,61.3: Também em 61.10 e 13. Citado em: NIEDERWIMMER, K.; ATTRIDGE, H. W. The Didache: A commentary. Facsim. on lining papers. Hermeneia: a critical and historical commentary on the Bible. Minneapolis: Fortress Press, 1998, p. 126.
[10] JUSTINO MÁRTIR, Apologia I, LXV. In: BETTENSON, H. Documentos da igreja cristã. São Paulo: ASTE, s/d. p. 103 (Grifo nosso).
[11] OLSON, R. E. História da teologia cristã: 2000 anos de tradição e reformas. São Paulo: Editora Vida, 2001, p. 67-69.
[12] IRINEU, Proof of the Apostolic Preaching, p. 3.
[13] DAVIES, W. D.; ALLISON, D. C. A critical and Exegetical commentary on the gospel according to saint Mathew. VOL 3. Edinburgh: T & T Clark, 1961, p. 685 (nota 46).
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Cronologia da historicidade da doutrina bíblica da Trindade - 4ª parte
Século 4
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A igreja gastou o tempo entre o Concílio de
Nicéia (325) e o Concílio de Constantinopla (381) em ardorosos
debates sobre a melhor forma de descrever o relacionamento entre Pai e Filho
e, na parte final desse período, o Espírito. Considerável número de facções e
fortes personalidades utilizaram meios políticos e teológicos, e mesmo a
força física, para promulgar seus pontos de vista. Três grupos principais
mantiveram-se em oposição teológica à formulação de Nicéia (rotulados por
Atanásio e Epifânio de arianos e semi-arianos, apesar de Ário não
existir mais): os que ensinavam o termo homoion,
os que ensinavam o termo homoiousios
e os que ensinavam o termo heteroousios,
ao descrever o Pai e o Filho.
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O primeiro
grupo discordava do termo niceano homoousios
e o substituía por homoion (“semelhante”),
um termo mais ambíguo. A facção preferia o termo em virtude de sua
simplicidade e porque ele aparece na Bíblia, embora nenhum dos 66 livros
atuais e dos livros analisados da época empregue o termo para descrever o
relacionamento entre Pai e Filho! Foi um verdadeiro retorno ao passado, antes
do Concílio de Nicéia, sem avanço algum.
|
|
O segundo
grupo, também conhecidos como semi-ariano, tentou amenizar o termo niceano
com a expressão homoiousios (“de
natureza similar”), vendendo a ideia de que Eles eram similares, em vez de
iguais. Basílio de Ancira é
considerado o porta-voz desta visão. O imperador romano da época havia
destituído o bispo de Ancira, Marcelo, por ele crer na fórmula niceana, e colocou
Basílio em seu lugar! O termo proposto por Basílio buscou eliminar o potencial
para a unidade radical do modalismo e também para qualquer divisão da
natureza de Deus. Basílio argumentava que, se Pai e Filho fossem o mesmo,
então identifica-los como Pai e Filho rachava a essência única. Por outro
lado, sendo apenas semelhantes, não eram da mesma substância de modo que não
existia o perigo de se dividir a unidade de Deus. O Pai somente era Deus! Já
o Filho também era criatura, apesar da maquiagem feita por Basílio em sua
definição de Jesus. O problema é que os cristãos sempre haviam adorado a
Jesus como Deus!
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Aécio fundou o
terceiro grupo: Pai e Filho são de “diferente substância” (heteroousios). No quarto século esta
facção foi associada ao nome de Eunômio
e em tempos mais recentes, vieram a ser reconhecidos como neo-arianos. Foram denunciados por
vários concílios e rejeitados por numerosas igrejas, de modo que os
neo-arianos ordenaram deus próprios bispos e estabeleceram sua própria
igreja, uma prática não usual naqueles dias! Em vários sentidos eram mais
consistentes internamente do que as duas outras facções – consideravam o Pai
como não-gerado e o Filho como gerado pelo Pai, a partir de uma natureza (ousios) diferente da Sua própria; não existia Trindade, mas uma
hierarquia com o Deus verdadeiro como líder, e o Filho e o Espírito como
subordinados; mantinham o monoteísmo sem a necessidade de redefinir qualquer
terminologia ou categorias. Lamentavelmente, porém, para eles Jesus Cristo e
o Espírito Santo não são Deus, e o batismo deles não era feito em Nome do
Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas apenas na morte de Cristo.
|
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Um quarto
grupo poderia ser mencionado – “os lutadores contra o Espírito Santo”, sob o
termo pneumatamachoi! Uma vez que a
declaração de Nicéia havia sido extremamente sintética em sua menção ao
Espírito Santo, essa facção se sentia confortável com a descrição dada pela
fórmula niceana quanto à natureza do Pai e do Filho como sendo homoousios, mas argumentava que o
Espírito não podia ser da mesma substância do Pai e do Filho.
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Esta pesquisa está em construção. Aguardem por seu desfecho! A primeira parte da Cronologia aqui, a segunda,aqui e a terceira parte aqui! (Hendrickson Rogers)
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Hendrickson Rogers
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Cronologia da historicidade da doutrina bíblica da Trindade - 3ª parte
Século 4
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Atanásio, jovem secretário do bispo Alexandre e
presbítero da igreja de Alexandria, participou do Concílio de Nicéia e,
apesar de ter desempenhado papel menor nos debates, o concílio modelou sua
vida de tal maneira que ele gastou o resto de sua vida tentando manter o ponto
de vista niceano a respeito de Cristo. Atanásio refutou as leituras arianas
de Atos 2:36 e Hebreus 3:2, por exemplo, apresentando a ambiguidade do verbo poieo (fazer ou tornar), ignorada por
Ário. Provérbio 8:22 representou um interessante desafio para Atanásio – Ário
e Orígenes interpretavam esse texto como se referindo literalmente a Cristo!
Como Atanásio possuía razões políticas para não aparecer em completo
desacordo com Orígenes, ele provavelmente preferiu entender o texto como
significando que Cristo submeteu-Se a uma mudança de status quando veio à Terra.
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Uma corrente
filosófica popular sustentava que Deus não podia ser afetado por qualquer
tipo de paixão ou sentimento, por mudanças e variações, e por experiências
como sofrimento e a morte! Pelo fato de ainda não existir uma clara definição
da dupla natureza de Jesus Cristo capaz de compreender Sua natureza divina
como mantendo os atributos de Deus e ao mesmo tempo Sua natureza humana
exibindo os atributos da humanidade, a insistência em que Deus preenchesse as
descrições filosóficas da divindade representou um sério desafio à descrição
niceana do Pai e do Filho como sendo ambos plenamente Deus! Mesmo Atanásio
parecia estar falando de dois Deuses e até mesmo três, quando se adiciona o Espírito
Santo, ao passo que a definição filosófica de Deus assevera que Ele é “Um” e
indivisível. Jesus simplesmente não correspondia às noções dos filósofos
sobre como um Deus real devia ser!
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Para os cristãos estudiosos do quarto século
que criam na eternidade do Filho, esse conjunto de expectativas não
correspondidas levou-os a assumir que o Filho era essencialmente diferente do
Pai! “Trindade”, “Três em Um” simplesmente desafiava todas as categorias
matemáticas em uso desde Aristóteles. O mesmo era verdade em relação ao termo
homoousios
(“de uma mesma substância”), escolhido em Nicéia para representar o Pai e o
Filho como sendo da mesma natureza. O termo apresentava dois possíveis
significados em seu uso filosófico: os crentes poderiam entendê-lo como
retratando Pai e Filho tanto como dois indivíduos de um tipo – dois Deuses,
ou então como um indivíduo dividido em duas partes – Deus dividido em dois
modos (o modalismo de Sabélio). O único raciocínio correto
desses pensamentos é que o termo enfatiza o contraste entre Deus e a
criatura! Atanásio argumentava em
favor da nomenclatura Trindade e homoousios
afirmando que todos os seres criados compartilhavam um conjunto de
características, ao passo que a Divindade compartilha um conjunto diferente
de características. Pai e Filho possuem a mesma natureza porque ambos Se
encontram do mesmo lado do abismo (o lado do Criador) existente entre Criador
e criatura. Trata-se de uma separação “bíblica”! Eles são dignos de adoração.
Anjos e homens, não. Por volta do tempo de sua morte em 373, Atanásio
convencera a maioria dos teólogos cristãos de que era necessário utilizar a nova terminologia, em vez de
restringirem-se aos termos que apareciam na “Bíblia”. Em virtude das
barreiras existentes entre os que falavam e escreviam grego e os que usavam latim,
e dos desafios adicionais para os que utilizavam o grego como segundo ou terceiro
idioma, passaram-se décadas para que todos entendessem os novos significados
desses termos. Alinhamentos ou realinhamentos
políticos também desempenharam papel maior na discussão dos termos e seus
significados!
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