quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

"Eu, porém, vos digo" e o costume de jurar


“Também ouvistes que foi dito aos antigos: Não jurarás falso, mas cumprirás rigorosamente para com o Senhor os teus juramentos. Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis; nem pelo céu, por ser o trono de Deus; nem pela terra, por ser estrado de seus pés; nem por Jerusalém, por ser cidade do grande Rei; nem jures pela tua cabeça, porque não podes tornar um cabelo branco ou preto. Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mt 5:33-37).

O que significava jurar para um judeu nas décadas de Cristo? Paulo explica: “Pois, quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo. Pois os homens juram pelo que lhes é superior, e o juramento, servindo de garantia, para eles, é o fim de toda contenda. Por isso, Deus, quando quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento” (Hb 6:13,16 e 17). Com essa explicação paulina ganhamos também o seguinte: Deus jurou no Antigo Testamento (Gn 22:16; mesmo sem pronunciar as expressões “eu juro” ou “juramento”, se alguém afirmasse ou prometesse usando o nome de alguém ou algo superior, isso era juramento do mesmo jeito! Confira o juramento que JAVÈ fez em Nm 14:21-23 e compare com Sl 95:10,11 e Hb 4:3)! Sendo que JAVÉ Deus trino é imutável, devemos encontrar Seus juramentos no Novo Testamento também e entender o que Ele, na Pessoa de Jesus, quis dizer com a ordem “Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis”!

“Vi outro anjo forte descendo do céu, envolto em nuvem, com o arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo; e tinha na mão um livrinho aberto. Pôs o pé direito sobre o mar e o esquerdo, sobre a terra, e bradou em grande voz, como ruge um leão... Então, o anjo que vi em pé sobre o mar e sobre a terra levantou a mão direita para o céu e jurou por aquele que vive pelos séculos dos séculos, o mesmo que criou o céu, a terra, o mar e tudo quanto neles existe: Já não haverá demora, mas, nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas” (Ap 10:1-3, 5-7). O Senhor Jesus Cristo profere esse juramento no Apocalipse! Vou lhe ajudar a reconhecer Jesus na Pessoa desse “anjo” distinto. O profeta Daniel viu e ouviu Miguel numa situação idêntica a que o profeta João viu e ouviu esse “anjo”: “Ouvi o homem vestido de linho, que estava sobre as águas do rio, quando levantou a mão direita e a esquerda ao céu e jurou, por aquele que vive eternamente, que isso seria depois de um tempo, dois tempos e metade de um tempo. E, quando se acabar a destruição do poder do povo santo, estas coisas todas se cumprirão” (Dn 12:7).

Para que não reste alguma dúvida em sua mente, querido(a) leitor(a), observe esta sequência de textos e perceba que o “homem vestido de linho” é Miguel: “Havendo eu, Daniel, tido a visão, procurei entendê-la, e eis que se me apresentou diante uma como aparência de homem. E ouvi uma voz de homem de entre as margens do Ulai, a qual gritou e disse: Gabriel, dá a entender a este a visão. No dia vinte e quatro do primeiro mês, estando eu à borda do grande rio Tigre, levantei os olhos e olhei, e eis um homem vestido de linho, cujos ombros estavam cingidos de ouro puro de Ufaz; o seu corpo era como o berilo, o seu rosto, como um relâmpago, os seus olhos, como tochas de fogo, os seus braços e os seus pés brilhavam como bronze polido; e a voz das suas palavras era como o estrondo de muita gente. Contudo, ouvi a voz das suas palavras; e, ouvindo-a, caí sem sentidos, rosto em terra. Mas eu [Gabriel] te declararei o que está expresso na escritura da verdade; e ninguém há que esteja ao meu lado contra aqueles, a não ser Miguel, vosso príncipe.” (Dn 8:15,16 e 10:4-6,9,21). (Compare com a descrição que João fez do Senhor Jesus em Ap 1:13-17).


A Bíblia informa ainda que o arcanjo Miguel (Jd 9) é o Senhor Jesus Cristo: “Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão” (Jo 5:25). “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro” (I Ts 4:16, VARC). E que Jesus assumiu o papel de Anjo JAVÉ (ou de JAVÉ) há muito tempo (cf. Zc 12:8, Gn 31:11-13, Êx 23:20,21, Os 12:4,5 e Gn 28:13)! Para um estudo completo das funções de Jesus como Deus, Anjo e Homem, leia o artigo: “Jesus Cristo: JAVÉ, Anjo, Arcanjo, Miguel e Príncipe”.


Assim sendo, o mesmo Jesus que proibiu o juramento em Mateus 5, jurou em Apocalipse 10! Mas, será que é isso mesmo? NÃO! Deus não Se contradiz, Deus não muda! O juramento para o qual o Senhor ordenou “nunca jureis” é este: “Ai de vós, guias cegos, que dizeis: Quem jurar pelo santuário, isso é nada; mas, se alguém jurar pelo ouro do santuário, fica obrigado pelo que jurou! Insensatos e cegos! Pois qual é maior: o ouro ou o santuário que santifica o ouro? E dizeis: Quem jurar pelo altar, isso é nada; quem, porém, jurar pela oferta que está sobre o altar fica obrigado pelo que jurou. Cegos! Pois qual é maior: a oferta ou o altar que santifica a oferta? Portanto, quem jurar pelo altar jura por ele e por tudo o que sobre ele está. Quem jurar pelo santuário jura por ele e por aquele que nele habita; e quem jurar pelo céu jura pelo trono de Deus e por aquele que no trono está sentado” (Mt 23:16-22). Era assim que o juramento ensinado e praticado por Deus no AT estava sendo realizado por “Seu povo” no NT! O Mestre divino ensinou conforme o AT que “melhor é que não votes do que votes e não cumpras” (Ec 5:5). Jesus não foi contra o jurar, mas contra o perjurar! Jesus não proibiu a promessa veraz, mas a mentira descarada!

Outra evidência disso ocorreu anos depois quando o Cordeiro de Deus estava para ser morto. “Jesus, porém, guardou silêncio. E o sumo sacerdote lhe disse: Eu te conjuro pelo Deus vivo que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus” (Mt 26:63). Conhecedor do AT como Ele era, o Senhor Jesus não ficou calado perante esta intimação de Caifás devido o que Ele mesmo como JAVÉ em Levítico ordenou ao povo: “Quando alguém pecar nisto: tendo ouvido a voz da imprecação, sendo testemunha de um fato, por ter visto ou sabido e, contudo, não o revelar, levará a sua iniqüidade” (Lv 5:1). Jesus não transgrediu o AT, não mais “guardou silêncio” e respondeu ao juramento do sumo sacerdote: “Eu sou” (Mc 14:62), evidenciando Sua divindade e Seu respeito ao juramento!

Paulo assimilou bem essa ideia do correto juramento: “Conjuro-vos, pelo Senhor, que esta epístola seja lida a todos os irmãos” (I Ts 5:27). “Conjuro-te, perante Deus, e Cristo Jesus, e os anjos eleitos, que guardes estes conselhos, sem prevenção, nada fazendo com parcialidade” (I Tm 5:21). “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu reino” (II Tm 4:1). Ao mesmo tempo, o ex-fariseu e apóstolo estudioso do Antigo Testamento abominava o costume judeu de perjurar: “impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo quanto se opõe à sã doutrina” (I Tm 1:10). Aliás, esse costume era tão arraigado a cultura do povo que Pedro o usou como garantia de que sua mentira fosse aceita, para que seus acusadores o deixassem em paz! “E ele negou outra vez, com juramento: Não conheço tal homem. Então, começou ele a praguejar e a jurar: Não conheço esse homem! E imediatamente cantou o galo” (Mt 26:72,74). E o próprio Paulo foi vítima desse ato criminoso de jurar contrariamente aos ensinos do AT. “Estes, indo ter com os principais sacerdotes e os anciãos, disseram: Juramos, sob pena de anátema, não comer coisa alguma, enquanto não matarmos Paulo” (At 23:14). Esse vício era praticado por não judeus também, talvez pelo mal exemplo dos judeus! Herodes Antipas, descendente de Esaú, não voltou atrás em sua promessa feita a sua encantadora sobrinha por ter jurado! “Entristeceu-se o rei, mas, por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, determinou que lha dessem” (Mt 14:9). Pelo menos o juramento para Antipas foi realizado de acordo com o AT, embora para algo contrário ao AT! Terrível, não?!

Por isso o “Emanuel” asseverou “Eu, porém, vos digo: de modo algum jureis”. Por isso que Tiago reiterou o ensinamento do Antigo Testamento ratificado (não retificado!) por Cristo em sua carta e apontou para o destino dos que juram falsamente, dos que prometem, mas não cumprem, dos que usam a mentira como estratégia para usurpar o que é do próximo ou como escudo para evitar consequências imediatas! “Acima de tudo, porém, meus irmãos, não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes, seja o vosso sim sim, e o vosso não não, para não cairdes em juízo” (Tg 5:12), isto é, “em condenação” (NVI). Tiago parafraseou as palavras de JAVÉ em carne: “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mt 5:37), sem mudar o significado delas. O mesmo fez Cristo com Suas próprias palavras ditas no Antigo Testamento e comentadas no Novo Testamento, isto porque, em verdade, a Palavra de Deus não possui dois períodos, dois testamentos. Ela é uma só, do jeitinho que Ele nos ensinou! (Hendrickson Rogers)

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