No livro A Filosofia como Medicina da Alma, o professor Paulo Ghiraldelli Jr. argumenta que a Globo apresenta uma visão simplória da maldade em suas novelas e “não consegue admitir a existência do mal”. Lançado pela editora Manole, o livro é o último de uma trilogia sobre filosofia voltada para o cotidiano. Como a Filosofia Pode Explicar o Amor e Filosofia, Amores & Companhia são os outros dois títulos da série. Com dezenas de livros publicados, Ghiraldelli divulga estudos de filosofia e pedagogia em seu blog e disponibiliza textos e e-books gratuitamente. O acadêmico também é o editor responsável pela coleção “Filosofia em Pílulas”.
Leia o trecho que reflete sobre a posição da emissora. O texto foi extraído do exemplar:
“A Rede Globo de TV não consegue admitir a existência do mal. Não se pode dizer se é ou não uma maneira de autodissimulação. O que se constata é que, em suas novelas, que são bem representativas da visão de mundo daquele aparato midiático, é claro que há a apresentação de personagens maldosos, mas, ao fim e ao cabo, quase sempre, eles são apresentados como psicopatas. ‘Falta-lhes um parafuso’, por isso cometem crimes bárbaros. O prazer que sentem com o mal de outros pode até ter lá, no meio da história, uma gênese mais ou menos cabível em termos literários. Mas, ao final, o destino do malfeitor é se apresentar maluco. A cadeia ou a morte do personagem maldoso não valem se este não se mostrar, em algum aspecto, como um exemplar de alguma patologia.
“Essa visão simplória tanto da loucura quanto do mal serve para produzir algum efeito tranquilizador ao final. Que não se preocupem os telespectadores, o mal - o demônio em pessoa - não está aí a solta, dando sopa. O que vemos como sua obra é, na verdade, não algo do mundo normal, do próprio mundo, mas o que foge da normalidade e, escapando da razão, livra-se esporadicamente de toda e qualquer forma de organização social no seu cotidiano. Trata-se da desrazão tomada como algo bem pontual. A inteligência e o mal se unem para que exista a trama da telenovela, pois sem essa união, um escritor de novelas sabe que história alguma é possível. No entanto, ao final, é necessário castrar a ideia desestabilizadora, subversiva porque filosófica: como o mal ziguezagueia por aí? Não! Não pode. O mal não é mau, é louco.”
Fonte: Folha.com.
Nota de MB: Não bastasse essa visão distorcida do mal, veja os “valores” comportamentais que as novelas da Globo ajudam a transmitir. Depois, a mesma emissora hipocritamente divulga campanhas de prevenção ao HIV e se espanta com o aumento do número de adolescentes grávidas.[Michelson Borges]
Nenhum comentário:
Postar um comentário