quarta-feira, 15 de junho de 2011

“Por que lhes falas por parábolas?”

Então, se aproximaram os discípulos e lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido. Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso, lhes falo por parábolas; porque vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem”. Mateus 13:10-13.

Como conciliar essas afirmações do Senhor Jesus com outras como: “Eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo”(João 12:47); “para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade”(João 18:37)? (...)

Jesus revela aos discípulos que não seria “concedido” aos que estavam “fora” (veja Mt 13:11 e Marcos 4:11) o conhecer “os mistérios do reino dos céus”. Ele se explica afirmando que “ao que tem se lhe dará mais, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado”. Em Lucas 8:16 e 18 Jesus se detalha dizendo: “Ninguém, depois de acender uma candeia, a cobre com um vaso ou a põe debaixo duma cama; pelo contrário, coloca-a sobre um velador, a fim de que os que entram vejam a luz. Vede, pois, como ouvis; porque ao que tiver, se lhe dará; e ao que não tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado”!

Vemos, assim, o Senhor mostrando aos discípulos que o povo judeu não receberia maiores informações do que as que Ele lhes passava através de Suas palavras; mas não que Jesus estivesse esquecido de Sua missão ou possuísse uma falta de vontade momentânea! Os filhos da promessa, descendentes de Abraão, estavam “cobrindo” a luz do Céu “com vasos”; eles colocavam a providência divina “debaixo duma cama”!! De modo que, os judeus que eram fiéis refletores da luz divina, a exemplo dos discípulos que estavam com Cristo, receberiam “em abundância” da Palavra de Deus. Os que colocaram a candeia “num velador” continuariam a ser mais e mais iluminados!! Em contrapartida, aqueles que não corresponderam à luz recebida, até o que “julgavam” possuir lhes seria tirado...

O preciso Mestre ainda esclareceu: “porque vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem”, v. 13. É chocante percebermos o diagnóstico dado pelo Médico dos médicos, àqueles que, desde um passado remoto, vinham sendo tratados e até curados... Em toda jornada dos hebreus (de Abraão até os reinos de Israel e Judá, a restauração do reino do sul, etc.) Deus os orientou com Seus ensinamentos poderosos e lhes pediu que “atassem” as instruções na “mão, para que estejam por frontal entre os olhos”! (Deuteronômio 11:18).

Mesmo envidando tantos esforços por Seus escolhidos, o Senhor vivia a suspirar... “Quem dera que eles tivessem tal coração, que Me temessem e guardassem em todo o tempo todos os Meus mandamentos, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos, para sempre!”, Dt 5:29. A teimosia, a negligência de Seus escolhidos se tornou irremediável. O propósito de Deus em escolhê-los não mais podia ser alcançado. Jesus disse a Moisés no início de tudo: “vós Me sereis reino de sacerdotes e nação santa”, Êxodo 19:6. Porém, agora, Ele profere as mais terríveis palavras que se pode dizer contra pecadores impenitentes: “o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos”. (Mt 21:43).

É inacreditável que pessoas tão amadas pelo Senhor, tão claramente convocadas e escolhidas, caminhem voluntariamente por uma vereda sem retorno! Como esse povo pode ser chamado por seu próprio Mestre de cego? Como... “vendo, não vêem”?

As advertências divinas foram infinitas! “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! Ai dos que são sábios a seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito!”, Isaías 5:20 e 21. “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento”, clamava o Senhor! Mas esta “falta de conhecimento” é um tanto estranha, não acha? Um Deus poderoso na palavra não permitiria a menor ignorância espiritual em Seu povo! Veja que o Senhor mesmo esclarece: “Porque tu, sacerdote, REJEITASTE o conhecimento”!! (Oséias 4:6; ênfase nossa) “Visto que este povo se aproxima de Mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de Mim, e o seu temor para Comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu”, Isaías 29:13.

Jesus informa que eles tendo recebido luz (conhecimento), rejeitaram-na pela falta de prática a ponto de “não vêem” a escuridão que os cercava e pior: “não vêem” a “Luz da vida” que sobre eles incidia! João 8:12.

A cegueira pela ignorância é curável por Deus. (Veja Atos 17:30). Contudo, a cegueira pela rejeição ou desobediência é incurável! Em Sua misericórdia e justiça, o Senhor fornece Sua luz a todos os homens. Para uns ela restaura a visão e os leva a Salvação! Para outros, essa luz explicita a cegueira e os revela a perdição (mesmo eles não enxergando seu triste fim!). Cristo deixou isto ainda mais saliente na seguinte conversa: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos. Alguns dentre os fariseus que estavam perto perguntaram-Lhe: Acaso também nós somos cegos? Respondeu-lhes Jesus: Se fôsseis cegos, não teríeis pecado algum; mas, porque agora dizeis: Nós vemos, subsiste o vosso pecado”. (Jo 9:39-41). “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz nisso está pecando”, Tiago 4:17.

“De sorte que neles se cumpre a profecia de Isaías: Ouvireis com vossos ouvidos e de nenhum modo entendereis; vereis com os vossos olhos e de nenhum modo percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com os ouvidos e fecharam os olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por Mim curados”!!! (Mt 13:14 e 15)

Ainda dentro de Sua resposta aos discípulos, Jesus menciona o cumprimento de uma profecia a qual Ele mesmo profetizou em Sua conversa com Isaías, centenas de anos antes! Podemos lê-la em Isaías 6:9 e 10: “Então, disse Ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais. Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, seja salvo”.

É quase tangível a diferença entre o que o Senhor disse a Isaías e o que Ele acabara de falar aos discípulos!

Chamo a sua atenção, caro leitor, ao fato de que a Bíblia interpreta-se! Quero dizer: A Bíblia traduz e explica a si mesma! Trazida a existência pelo próprio Deus, ela foi dotada com esse dom notável e não sente a necessidade de um interprete que não seja ela ou aqueles que a escreveram (se estivessem vivos) ou seu Autor por excelência!

Se Jesus afirma que aquelas palavras eram as mesmas dadas a Isaías, eu acredito e procuro fazer você acreditar também!

Observe: o Senhor ordenou a Isaías, aparentemente, a “tornar insensível o coração” do povo. Situação idêntica ocorreu nos tempos de Moisés: “Eu lhe endurecerei o coração, para que não deixe ir o povo”! (Êx 4:21) Então, quer dizer que Deus chegou pra Moisés, lhe disse para ir ao Egito e pedir a Faraó para que deixe o povo ir, mas Ele mesmo atrapalharia, endurecendo o coração de Faraó? E com Isaías Ele ordena ao profeta endurecer o coração do povo?

Em Perguntas&Respostas – Volume I, p.15, já vimos como a língua hebraica e seus usuários limitados costumam responsabilizar a Deus por coisas que Ele apenas permitiu acontecessem, mas não as realizou com Suas mãos! E é exatamente isto que está acontecendo nesses textos mencionados. Como demonstrar isto? Vejamos: “Todavia, o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu, como JAVÉ tinha dito”!(Êx 7:13) O escritor bíblico se refere a Deus como Aquele que profetizou a teimosia de Faraó e não como o responsável por ela! “Por que, pois, endureceríeis o coração, como os egípcios e Faraó endureceram o coração?”, é o que a mesma Bíblia profere, responsabilizando o próprio Faraó por sua decisão obstinada, e não Àquele que respeitou o seu livre arbítrio! (I Samuel 6:6) Em realidade, mesmo o monarca reconheceu isso: “Então, Faraó mandou chamar a Moisés e a Arão e lhes disse: Esta vez pequei; JAVÉ é justo, porém eu e o meu povo somos ímpios”, Êxodo 9:27.

Se Deus não usa Sua infinita e muitas vezes insondável capacidade para agir com desonestidade, mesmo com a possibilidade de ninguém em todo o Universo perceber, como Ele poderia ordenar que Isaías endurecesse o entendimento de um povo inteiro?! O que o Senhor disse a Seu profeta foi precisamente o que Sua visão penetrante enxergava com relação ao estado dos escolhidos israelitas, ao receberem as mensagens de Isaías! Deus já preparava a Seu servo para a decepcionante função de profeta que ele acabara de aceitar! (Veja Is 6:1-8) Contudo, Ele garantiu a Seu filho que alguns, embora poucos (Is 6:13), estariam com os olhos, os ouvidos e o entendimento abertos à mensagem!

Jesus explicou aos discípulos que os judeus cumpriam completamente a profecia com a qual Ele preparou Isaías! Em nenhum momento Ele se indispôs para ajudar Seu povo. O povo se encontrava num estado sem esperança e solução, assim como aqueles obstinados pecadores não salvos estarão após o fechamento da “porta da graça”... É para eles a profecia : “Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo”, Apocalipse 22:11. Não que Deus tenha se cansado ou perdido a paciência, entende? É que nem mesmo Ele, nesse caso, pode fazer alguma coisa para salvar o pecador sem transgredir a lei da liberdade de escolha!

Em descobertas recentes, alguns pesquisadores do mundo animal têm observado a cegueira em espécies que vivem em ambientes totalmente vazios de luz. Esses cientistas chegam à conclusão de que, pra quê olhos se não existe luz? Realmente não faz diferença nenhuma a presença ou a ausência de visão, quando se habita na escuridão completa!

A nação escolhida por Deus para receber Sua luz e disseminá-la, quase em sua totalidade rejeitou deliberadamente durante centenas e até milhares de anos, a providência divina. O resultado de viver num ambiente de trevas espirituais é a cegueira espiritual, diz o apóstolo João: “Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas, e anda nas trevas, e não sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos” (I Jo 2:11). Junte a isso o fato de que a “todos os que ouvem a palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração”!(Mt 13:19) Satanás se acha no direito de retirar, literalmente, a luz dos que voluntariamente habitam na escuridão! (Veja Mc 4:15) Ele é o deus deles, aquele que cega “o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho”!! (II Coríntios 4:4)

Ao lermos palavras como: “para que, vendo, vejam e não percebam; e, ouvindo, ouçam e não entendam; para que não venham a converter-se, e haja perdão para eles”, Marcos 4:12, devemos estar certos de que não é Deus quem está impedindo alguém de ser salvo; Ele está informando a má decisão desse alguém, em ouvir “de mau grado” a voz do Salvador e fechar “os olhos” para não ver seu terrível erro. E essa decisão O impede de “convertê-los e curá-los”!

Agora, quanto ao ato de “quando Jesus ficou só” (Marcos 4:10) é que Ele explicou a parábola, devemos notar que foi a iniciativa dos discípulos que levou o Mestre a explaná-la! Foi Jesus mesmo que afirmou: “todo o que pede recebe; o que busca encontra; e a quem bate, abrir-se-lhe-á”! (Lc 11:10) Por que um outro judeu ouvinte, dentro da multidão “à beira-mar” (veja Mc 4:1), não buscou a Jesus e Lhe pediu esclarecimentos sobre a parábola em questão? Lembre-se... “pra quê olhos se não existe luz?” A cegueira por preferência impedia a multidão de aceitarem as advertências do Mestre divino! Não que as parábolas do Senhor fossem propositalmente construídas com a intenção de impedir a assimilação. “Não entendeis esta parábola e como compreendereis todas as parábolas?”, indagou o consciente Mestre, como um professor que diz: “Atenção turma! Se vocês se distraem a ponto de não entenderem esta clara ilustração, como entenderão o resto do conteúdo?” Mesmo assim, o condescendente Senhor se detalha àqueles que se interessam! “Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância”. Quem tem a luz e não a rejeita, antes com sincero esforço procura segui-la, mesmo que defeituosamente, sem dúvida recebe mais luz; entretanto, os que possuem a luz e a rejeitam, perdem a capacidade de ver e até o que possuem, deles é retirado...

Portanto, as parábolas não eram um método antijudeu, nem as explicações uma exclusividade apostólica. A Luz “ilumina a todo homem”! O problema sempre foi e ainda é: “O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dEle, mas o mundo não O conheceu. Veio para o que era Seu, e os Seus não O receberam”, João 1:9-11. (Perguntas&Respostas, volume II, 20-23)


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