Atualmente, a ciência,
de modo geral, é a estranha combinação do estudo da natureza e uma filosofia que
exclui Deus! Não há sincera procura da verdade.
Quando Cristóvão
Colombo começou a navegar para o oeste em 1492, esperava finalmente chegar à
costa da Índia. O plano era baseado na convicção de que a Terra era uma esfera,
e assim navegando para o oeste, o navio devia chegar ao lado oriental do
planeta. Em reunião realizada em Salamanca, Espanha, os líderes da igreja argumentaram
contra tais ideias, advertindo que a Terra seria plana e que se ele navegasse
para o oeste, cairia da borda de uma terra plana. Colombo navegou para o oeste,
mas em vez de chegar à Índia, desembarcou na margem oriental das Américas – uma
descoberta acidental que abriu as portas para o Novo Mundo. Partes dessa
história são inventadas. É verdade que Colombo acreditava que a Terra era uma
esfera e que, se o navegante fosse para o oeste da Europa em alto mar, uma
Terra esférica deveria levá-lo à parte oriental do globo. Mas a grande
inverdade histórica, repetida várias vezes, é que os líderes da igreja, na
época, afirmavam que a Terra era plana, e que tentaram impedir Colombo de
realizar a viagem ao desastroso mergulho na ponta final da Terra. A convicção
de que, durante a Idade Média, os líderes da igreja defendiam uma teoria da
Terra plana é um mito. [1] Vários escritores são acusados de criar essa falácia
e atribuí-la à igreja. No início do século 19, o popular escritor americano
Washington Irving combinou a história com a ficção. Descreveu a forma como os
padres atacaram Colombo na famosa reunião de Salamanca. Irving afirmou que os líderes
da igreja forneceram a Colombo uma longa lista de autoridades que validaram o
achatamento da Terra. No entanto, essa descrição não deve ser levada a sério. É
considerada fictícia. A história registra que, na reunião de Salamanca, foram
expressas preocupações por Colombo ter que viajar para muito longe, mas nada
foi dito sobre o achatamento da Terra. O maior responsável pela propagação dessa
inverdade histórica foi provavelmente John Draper, cientista e médico que se
tornou reitor da faculdade de Medicina na Universidade da Cidade de Nova York.
Seu pai era um ministro metodista, mas ele mesmo era fortemente antirreligioso.
Quando o filho de sua irmã morreu com oito anos de idade, e ela colocou o seu
livro de oração sobre o aparelho de jantar de Draper, ele ficou tão bravo que
lhe ordenou que fosse embora de casa. Ela permaneceu afastada da família, unindo-se
à Igreja Católica, que o seu irmão havia desprezado. [2] Em 1873, Draper
publicou um livro com enorme sucesso intitulado History of the Conflict Between Religion and Science. [3] Só nos
Estados Unidos teve 50 edições em 50 anos e foi traduzido em todo o mundo. A
essa altura, a controvérsia entre a ciência e a Bíblia foi fulminante. Darwin
tinha recentemente publicado A Origem das Espécies que apoiava fortemente a
evolução. Neste contexto, o livro de Draper utilizou a falácia da Terra plana
para defender a superioridade da ciência sobre a religião. Embora Draper tenha reconhecido
que alguns estudiosos na Idade Média acreditavam que a Terra fosse esférica,
ele retratou falsamente os teólogos da igreja como opositores de Colombo em
Salamanca por sua crença de que a Terra era redonda. Posteriormente, Andrew Dickson White, o reitor da
Universidade Cornell, publicou A History
of the Warfare of Science With Theology in Christendom. Neste
trabalho, White referiu-se à teoria da Terra plana como um “terror entre os
marinheiros, [e] foi um dos principais obstáculos na grande viagem de Colombo”.
[4] Ao se referir a isso, o historiador Jeffrey Burton Russell salienta: “O
curioso resultado é que White e seus colegas acabaram fazendo o que eles
acusaram que os padres [da igreja] tinham feito, ou seja, a criação de um corpo
de falsos conhecimentos por considerações entre si em vez de pela evidência.” [5]
Muitos outros autores também contribuíram para a propagação da falsa ideia de
que o cristianismo foi quem introduziu o conceito de Terra plana antes e
durante a Idade Média. Tais falsas hipóteses se espalharam amplamente nos
livros didáticos e enciclopédias. Felizmente, há indícios de retificações. O
clichê “Terra plana” ainda prevalece e se tornou sinônimo de ignorância, de um
passado menosprezado, e de religião errônea. A expressão serve para garantir aos
céticos que eles estão certos e que não devem confiar na religião. Tais falsas acusações
contra a igreja também se tornaram uma conveniente e poderosa arma para adular
a ciência e para tentar demonstrar sua superioridade sobre as crenças
religiosas. Embora a igreja tenha cometido muitos erros, o conceito de Terra
plana não é um deles. Essa falácia foi gerada na época em que a ciência estava
se libertando da autoridade religiosa.
A
religião e os pioneiros da ciência moderna Quase todos os
principais fundadores da ciência moderna (Kepler, Galileu, Boyle, Newton,
Pascal, e Linnaeus, só para citar alguns) acreditavam fervorosamente em Deus e
na Bíblia. Nas suas publicações científicas, muitas vezes falaram de Deus e de
Sua atividade na natureza. Eles não viam conflito entre Deus e os seus estudos
da natureza, porque acreditavam que Deus tivesse criado as leis da natureza que
tornaram a ciência possível. Isaac Newton (1642-1727), um dos maiores
cientistas de todos os tempos, fez mais do que qualquer outro para emancipar a
ciência da especulação e do baixo nível de autenticação que prevaleciam antes
de sua época. Sua produtiva pesquisa Principia foi elogiada pelo estudioso
francês Laplace como sendo superior a todas as outras produções do intelecto
humano. Newton comenta: “Este sistema mais belo do Sol, planetas e cometas, só
poderia proceder do conselho e domínio de um Ser inteligente e poderoso.” Newton
era também profundamente comprometido com o estudo da Bíblia, escrevendo extensamente
sobre as profecias de Daniel e Apocalipse. A vida de Newton ilustra claramente
como a ciência apropriada e uma forte crença em Deus podem trabalhar em
conjunto. Johannes Kepler (1571-1630), que trabalhava em Praga, desenvolveu
três princípios conhecidos como as leis de Kepler, que sobreviveram quase
intactos até hoje. O astrônomo italiano Galileu (1564-1642) viu uma rigorosa relação
entre Deus e a matemática da natureza. E como Newton, também escreveu sobre a
vida de Cristo. Sua reverência para com Deus manifesta-se na afirmação: “Se
tenho sido seduzido em insolência pela maravilhosa beleza de Tuas obras, ou se
tenho amado a minha própria glória entre os homens, enquanto avanço no trabalho
destinado a Tua glória, gentil e misericordiosamente me perdoa: e, finalmente,
me digno graciosamente por provocar estas manifestações que podem levar a Tua
glória e à salvação de almas, e em nenhum lugar ser um obstáculo para isso.
Amém.”
A
rejeição da ciência de Deus Em contraste com Kepler
e Newton, a ciência hoje se encontra em uma matriz intelectual muito diferente quando
se trata de Deus. O novo etos é
fortemente materialista (também chamado de naturalista ou mecanicista) e não há
lugar para Deus, em seu menu explicativo. Incluí-Lo é considerado anticientífico.
O famoso biólogo Richard Lewontin, da Universidade Harvard, comenta: “Não é que
os métodos e instituições de ciência de certo modo nos obriguem a aceitar uma explicação
material do mundo fenomenal, mas, pelo contrário, somos forçados a priori a aderir às causas materiais para
criar um aparato de investigação e um conjunto de conceitos que produzam explicações
materiais, não importa quão anti-intuitivo, não importa quão mistificante para
os não iniciados. Além disso, o materialismo é absoluto, pois não podemos
permitir um Pé Divino na porta.” A ciência colocou, para Deus, uma placa “Não
Entre”. O biólogo Todd Scott, da Universidade do Estado de Kansas, comentou na
prestigiosa revista Nature: “Mesmo
que todos os dados apontem para um projetista inteligente, tal hipótese é
excluída da ciência porque não é naturalista.” Atualmente, existe uma quase
absoluta exclusão de Deus dos livros científicos e revistas. Infelizmente, essa
atitude fechada impede a ciência de acompanhar as evidências da natureza. A
ciência não pode avaliar as evidências de Deus, enquanto Ele é excluído de
consideração.
Quando
a ciência rejeita Deus? A mudança foi gradual. Durante os séculos
17 e 18, como a ciência moderna se desenvolveu no mundo ocidental, a firme
crença em Deus e na Bíblia foi dominante entre os cientistas. A crença começou
a diminuir ao passo que o materialismo e a desconfiança da religião cresceram.
Filósofos e céticos como Hume, Voltaire, Kant influenciaram profundamente as
perspectivas da humanidade durante o Iluminismo. Posteriormente, no século 19,
alguns cientistas começaram a fazer sugestões sobre a evolução e a idade das eras
geológicas, que estavam em forte oposição ao Gênesis que conta de uma recente
criação e do Dilúvio; e aos Dez Mandamentos, em que Deus diretamente afirma que
concluiu a criação em seis dias. A Origem das Espécies de Darwin fortaleceu a
agitação ao falar sobre um mecanismo para a evolução que não requeria Deus. O
livro foi inicialmente visto com considerável ceticismo, até que ambos,
teólogos e cientistas, o endossaram. Durante a última metade do século 19, os
cientistas continuaram a eliminar a Deus das interpretações científicas. Houve
afastamento da espiritualidade, e histórias como a falácia da Terra plana
contribuíram para a rejeição da religião. Com o relato de descobertas incríveis,
a ciência se tornou mais poderosa. Os cientistas começaram a visualizar seu
campo de estudo como superior. As explicações materialistas foram fornecidas
para quase tudo e não havia qualquer necessidade de Deus. De fato, a igreja
tinha sido tão má no passado, que a sua influência e seu Deus deveriam ser
rejeitados. A opinião prevalece fortemente até hoje. Mesmo a sugestão de que
possa haver algum tipo de projetista inteligente para as extremas complexidades
da natureza a serem descobertas pela ciência, como defendido pelo Design
Inteligente, é vigorosamente rejeitada pelos líderes da comunidade científica.
A ciência tem se fechado em uma prisão secular que restringe a sua capacidade
para encontrar toda a verdade.
Rejeitando
a Deus: problemas para a ciência Se a ciência tivesse
chegado com algumas explicações plausíveis para as questões profundas sobre as
origens, alguém poderia considerar mais seriamente a sua rejeição a Deus. No
entanto, quando olhamos para a natureza, as principais características parecem
exigir um projetista muito perspicaz. Os exemplos incluem:
1. Como é que se
organizaram os átomos por si mesmos de maneira extremamente complicada e
versátil? Esses átomos podem formar todos os tipos de coisas desde o nosso
cérebro às galáxias, e podem dar à luz, para que possamos ver.
2. Como as quatro
forças da física atuam de tal forma que a precisão, e a específica esfera de
ação sejam as exatamente necessárias para que o universo exista?
3. Como é que até mesmo
a forma mais simples de vida independente, que é extremamente complexa, se
organizou por si só em uma Terra estéril?
4. Como características
interdependentes, tais como os intricados autofocus e autoexposições dos
sistemas do olho, nunca se organizaram por mutações aleatórias? As mutações são
quase sempre prejudiciais ou insignificantes e não podem traçar um plano com
antecedência, como a projeção complexa dos órgãos.
5. Os bilhões de anos
que postularam para a lenta evolução das formas de vida sobre a Terra são
demasiadamente curtos para as improbabilidades envolvidas ao nível molecular e
diante da lenta taxa de reprodução de organismos avançados.
6. O registro fóssil
revela o aparecimento súbito de grandes grupos, em vez de um longo e gradual
processo evolutivo. Uns poucos evolutivos intermediários, que são semelhantes a
outros organismos, são por vezes sugeridos, mas o problema está com a origem
dos grandes grupos.
7. A ciência ainda não
encontrou explicações plausíveis em questões sobre fenômenos da mente, tais
como a consciência, compreensão, moralidade, apreciação da beleza, e a do
significado da existência.
Infelizmente, na
ciência secular, a complexidade e a precisão de uma série de descobertas
científicas, em meio a explanações mecanicistas ímpias, estão muito menos
defensáveis agora do que quando a ciência eliminou Deus, ao longo do século
passado. A rejeição a Deus, pela comunidade científica, é provavelmente o seu
maior erro filosófico.
Por
quê?
A extrema complexidade da psicologia e da sociologia da comunidade científica
se opõe definitivamente às explicações. Mas há sugestões pertinentes quanto às
razões pelas quais a ciência agora rejeita a Deus. Pode-se logicamente
argumentar que a especialidade do cientista é o estudo da natureza. Desta
forma, o cientista se sente mais confortável do que estudar um Deus menos
escrutável. No entanto, o argumento perde a sua validade quando se considera o
modo como a comunidade científica livremente se entrega a especulações
desenfreadas, como todos os tipos de universos mais além do que podemos
observar, ou organismos postulados a terem vivido muitas centenas de milhões de
anos antes de os cientistas poderem encontrar qualquer de seus fósseis nas
camadas geológicas. O fato de que a ciência especula acerca de assuntos
imaginários, e não permite a inclusão do sobrenatural nas interpretações científicas,
implica um forte viés contra Deus. Um provável motivo para a ciência rejeitar a
Deus é o orgulho pessoal ou público do cientista em uma empresa bem sucedida e
cientificamente autônoma. Outro motivo pode ser a liberdade pessoal, que um
universo sem sentido fornece, onde ninguém é responsável perante Deus. Além
disso, há razões sociológicas. Atualmente, os cientistas estão sob uma tremenda
pressão para excluir Deus da ciência, especialmente por causa da atitude contra
Deus dos líderes da comunidade científica. A prática atual indica que, se os
cientistas incluem qualquer sugestão de Deus em suas interpretações, é provável
que as comunidades científica e acadêmica os rejeitem. Muitos cientistas
acreditam em Deus, mas não se atrevem a publicar sobre Ele. Devemos manter o
ponto de vista de que a ciência tem feito muita coisa boa, e que a maioria dos
cientistas são pessoas honestas, que nos fornecem novas informações fascinantes
e inovações úteis. Ao mesmo tempo, não devemos nos esquecer de que há a boa
ciência e há a má ciência, e devemos procurar seriamente distinguir entre as
duas. Há um forte viés secular na ciência. No entanto, os que creem na Bíblia
devem sempre ter em mente que todos nós cometemos erros e que uma quantidade enorme
de corrupção tem sido promovida sob a bandeira do cristianismo e de Deus. Na
grande luta entre a ciência e Deus, o cristão deve buscar refletir o caráter de
Deus na adoração, perdão e perspectiva da redenção.
O
veredito A ciência tem se redefinido. Hoje, a ciência é a
estranha combinação do estudo da natureza e de uma filosofia secular que exclui
Deus! Não há busca sincera da verdade. A liberdade acadêmica está comprometida.
A exclusão de Deus tem levado a erros tal como a teoria geral da evolução.
Esperamos que a ciência confira mais credibilidade à recém-descoberta da
extrema complexidade e precisão da natureza que indicam a necessidade de Deus.
A ciência deve retornar para a abertura que tinha quando os pioneiros da
ciência moderna permitiam Deus nas interpretações científicas.
Fonte: Ariel A. Roth
(Ph.D. Universidade de Michigan) foi diretor do Geoscience Research Institute e
editor da revista Origins. Embora aposentado, continua a pesquisar, escrever e
fazer palestras (email: arielroth@verizon.net),
para a Revista Diálogo vol. 20. Edição por Hendrickson Rogers.
Referências
1. Por exemplo: S. J.
Gould. “The
Persistently Flat Earth”. Natural History 103:12-19, 1994; J. B. Russell.
Inventing the Flat Earth: Columbus and Modern Historians. Nova York: Praeger,
1991.
2. Como reportado em
Russell, p. 37.
3. J. W. Draper. History of the Conflict Between Religion
and Science. 5. ed. Nova York: D. Appleton, 1875.
4. A. D. White. A History of the Warfare of Science With
Theology in Christendom. NovaYork: Dover Publications, Inc., 1896, v. 1, 1990,
p. 97.
5. Russell, p. 44.
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